Caminhada de Outono na Serra da Boa Viagem - À procura de Frutos e Frutificações
Fez-se no dia 21 de Setembro de 2011 uma caminhada com alunos do Agrupamento Escolar de Buarcos pela Serra da Boa Viagem. O objetivo da caminhada foi demonstrar aos alunos os frutos e as frutificações de árvores e arbustos que se encontram nesta altura nesta serra.
O percurso da caminhada: um trilho da Bandeira até a Escola Básica de Quiaios.
Falamos no início da caminhada sobre a evolução dos frutos e frutificações nas plantas angiospérmicas e gimnospérmicas e demos exemplos de plantas que possuem frutos e frutificações.
“A função primordial dos frutos é a protecção da semente em desenvolvimento, e é a principal razão atribuída pelos estudiosos ao fechamento dos carpelos nas primeiras Angiospermas. Ao longo de sua evolução, as plantas com flores e frutos desenvolveram novos tipos de frutos, e novas estratégias para a dispersão das sementes contidas neles, de forma que nas espécies actuais há uma variedade imensa de cores, formas, estruturas acessórias e sabores, cada qual especializada em uma forma diferente de dispersão de sementes. “
Vimos as frutificações dos pinheiros mansos, árvores gimnospérmicas que ainda não possuem frutos como as angiospérmicas, mas apenas frutificações em forma de pinhas.
A pinha (ou estróbilo ou ainda cone para os botânicos) é o órgão das plantas da divisão Pinophyta onde se encontram as estruturas reprodutivas.
As pinhas lenhosas que estamos habituados a ver são na verdade flores diferenciadas. Nas Gimnospermas, a pinha é órgão reprodutor onde são formados os micrósporos (Pólen) e os megásporos (célula-mãe do óvulo), diferenciando-se em espécie por tamanho, que no caso de estróbilo feminino são maiores em relação aos estróbilos masculinos. É errado, porém, afirmar que a pinha é o fruto, já que essa espécie de vegetal produz sementes "nuas" (Gimno = nuas; Spermas = semente), não protegidas por fruto, característica essa típica das Angiospermas, os pinhões.[1]
Tal como nas restantes espermatófitas, os estróbilos são ramos modificados, em cujas folhas se diferenciaram em órgãos reprodutores. Neste caso, ao contrário das flores das angiospérmicas, não se encontram estames ou carpelos, mas apenas escamas organizadas em hélice à volta do eixo. As escamas ou folhas masculinas, que produzem o pólen chamam-se microsporófilos e as femininas, que produzem os óvulos, chamam-se megasporófilos.
O cone masculino ou microstróbilo tem uma estrutura semelhante em todas as coníferas, diferindo apenas na organização das escamas. Na página abaxial de cada microsporófilo encontram-se um ou vários microsporângios, que são os equivalentes às anteras das plantas que produzem flores, onde se forma o pólen.
O feminino - o megastróbilo - que produz os óvulos que, depois de fertilizadas se tornarão sementes, apresenta formas diferentes nas várias famílias de coníferas.
Mencionamos 3 espécies diferentes de pinheiros existentes na Serra da Boa Viagem, o pinheiro-manso (Pinus pinea), o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) cujas pinhas estão agrupadas em forma "estrelada" e dai o nome "pinaster" desta árvore, e o pinheiro-de-Alepo (Pinus halepensis) que provavelmente é uma espécie introduzida nesta serra.
Frutificações (pinhas) do Pinheiro-de-Alepo (Pinus halepensis)
As Angiospérmicas aparecem há ca de 150 – 200 milhões de anos no Cretácico (fim da Era do Mesozoico), portanto relativamente tarde comparado com as gimnospermicas que evoluiram há ca de 270 milhões de anos já no Triásico (início da Era do Mesozoico), - mas são as Angiospérmicas que tiveram um enorme sucesso evolutivo provavelmente pela evolução do “fruto” enquanto que as gimnoespérmicas são consideradas hoje apenas um pequeno grupo de sobreviventes.
Em termos botânicos, o fruto é uma estrutura presente em todas as angiospermas onde as sementes são protegidas enquanto amadurecem. De forma prática, os frutos são quaisquer estruturas das Angiospermas que contém sementes.
Origem
Os frutos derivam-se do ovário das flores. Após a fecundação dos óvulos em seu interior, o ovário inicia um crescimento, acompanhado de uma modificação de seus tecidos provocada pela influência de hormônios vegetais, que interferem na estrutura, consistência, cores e sabores, dando origem ao fruto. Os frutos mantêm-se fechados sobre as sementes até, pelo menos, o momento da maturação. Quando as sementes estão prontas para germinar, os frutos amadurecem, e podem se abrir, liberando as sementes ao solo, ou tornam-se aptos a serem ingeridos por animais, que depositarão as sementes após estas passarem por seu aparelho digestivo. Os frutos verdadeiros se originam do ovário da planta.
Segundo registros fósseis, os primeiros frutos não passavam de folhas carpelares, como as encontradas em Gimnospermas, porém fechadas sobre as sementes, formando folículos. Os frutos mais simples nas espécies atuais possuem estrutura similar, foliculares, mas os mais comuns são frutos formados pela combinação de vários carpelos unidos entre si.
Função
Frutos capsulares de Ravenalla madagascariensis, com sementes azuis.
A função primordial dos frutos é a proteção da semente em desenvolvimento, e é a principal razão atribuída pelos estudiosos ao fechamento dos carpelos nas primeiras Angiospermas. Ao longo de sua evolução, as plantas com flores e frutos desenvolveram novos tipos de frutos, e novas estratégias para a dispersão das sementes contidas neles, de forma que nas espécies atuais há uma variedade imensa de cores, formas, estruturas acessórias e sabores, cada qual especializada em uma forma diferente de dispersão de sementes.
Há frutos que secam e abrem-se na maturação, simplesmente liberando as sementes sobre o solo. Outros, ao se abrir, expelem as sementes de forma explosiva, arremessando-as a grandes distâncias. Os frutos carnosos normalmente dependem de animais, que carregam os frutos para outros lugares, ou os ingerem, e carregam suas sementes no trato digestivo para serem liberadas longe do local de origem. Certos frutos armados de espinhos agarram-se à pelagem de mamíferos ou penugem de aves, e assim percorrem grandes distâncias. Há ainda frutos providos de alas e pelos, que permitem que flutuem por alguns momentos.
Estrutura básica dos frutos
Os frutos dividem-se basicamente em três camadas:
Epicarpo ou exocarpo: camada externa, normalmente uma camada membranácea e fibrosa; pode ser lisa, rugosa, pilosa ou espinosa, e é popularmente conhecida como casca, camada mais externa do fruto, se origina da epiderme do carpelo.
Mesocarpo: camada imediatamente abaixo do epicarpo, suculenta,que pode ou não armazenar substâncias de reserva. Provém do mesofilo carpelar.
Endocarpo: camada mais interna, normalmente a camada mais rígida que envolve as sementes. Origina-se da epiderme interna da folha carpelar. Em certos tipos de frutos, o endocarpo apresenta-se espessado e muito resistente.
Há muitas variações na aparência e na consistência destas camadas. Em frutos capsulares, secos, é comum o mesocarpo ou o epicarpo estarem suprimidos, enquanto a camada restante assume consistência lenhosa. Já em alguns frutos, como ameixas e pêssegos, o mesocarpo é grande e suculento, enquanto o "caroço" corresponde ao endocarpo lenhoso envolvendo a semente, ou amêndoa. Nas melancias, o mesocarpo e uma camada espessa e resistente, e o endocarpo corresponde à polpa vermelha em seu interior. Enfim, todos os frutos partem do mesmo plano básico de três camadas, cada um derivando-se de uma maneira ou de outra em direção a características próprias.
Classificação
Infrutescência jovem de Ananas nanus, abacaxi-anão.
Fruto composto de fruta-do-conde Annona squamosa.
Frutos do tipo legume de Leucaena leucocephala.
Os tipos de frutos são vários, e podem ser classificados de diversas maneiras, seguindo diferentes critérios.
Quanto à composição:
Frutos simples: quando os carpelos são unidos entre si, ao menos nos primeiros estágios de desenvolvimento. Ex.: a maior parte dos frutos conhecidos apresentam-se desta forma, como limões, pêras, maracujás, mamões, pepinos e goiabas.
Frutos compostos: os carpelos são separados desde a flor, e desenvolvem-se separadamente. Ex.: morango, magnólia.
Existem infrutescências, como o abacaxi, consideradas pelos leigos como um único fruto, ou um fruto composto. Na verdade, cada "gomo" do abacaxi corresponde a um fruto, originado de um ovário de uma flor. Estas flores são agrupadas de forma compressa em um eixo, de forma que seus ovários aderem-se uns aos outros, formando uma estrutura compacta.
Quanto à abertura:
Frutos deiscentes: frutos que abrem-se na maturação, normalmente secos. Ex.: castanha e a maior parte das leguminosas.
Frutos indeiscentes: frutos que não se abrem espontaneamente. Podem ser secos, lenhosos, ou carnosos. Ex.: laranjas, melões.
Quanto ao tipo:
Fruto carnoso (apresenta pericarpo suculento):
Baga: o ovário uni ou multicarpelar com sementes livres, por exemplo: tomate, limão, abóbora, uva, etc.
Drupa: o ovário unicarpelar, com semente aderida ao endocarpo duro (caroço), por exemplo: pêssego, ameixa,azeitona, etc.
Pomo: é um pseudofruto composto por 1 ou mais carpelos.por exemplo: maçã, pêra,marmelo, etc.
Folículo: abre-se através de uma única fenda longitudinal, por exemplo: esporinha, etc.
Cápsula: fruto seco que se abre através de poros ou por fendas longitudinais, por exemplo: papoula, mamona, fumo, paineira, [algodão]], etc.
Legume ou Vagem: abre-se através de duas fendas longitudinais. Caracteriza as leguminosas, por exemplo: feijão, soja, ervilha, amendoim, fava, etc.
Aquênio: fruto seco indeiscente, o pericarpo seco está totalmente aderido a uma única semente, apenas em um ponto. Por exemplo: girassol, etc.
Sâmara: fruto seco indeiscente, o pericarpo seco forma expansões aladas, por exemplo: tipuna, pau-d'alho
Síliqua: abre-se por quatro fendas longitudinais, deixando um septo mediano, por exemplo: ''crucíferas'' como couve e repolho, etc.
Noz: um fruto seco com apenas uma semente (raramente duas) no qual a parede do ovário ou parte dela torna-se muito dura na maturidade, por exemplo: avelã, bolota, etc. (A "noz" da nogueira-comum que foi até há pouco tempo considerada botanicamente uma drupa, agora já é considerada ser mesmo uma noz)
Cariopse ou Grão: fruto seco indeiscente, o pericarpo seco está totalmente aderido a uma única semente, porém difere dos Aquênios e caracteriza as gramíneas, por exemplo: milho, arroz, trigo, aveia, cevada, alpiste, etc.
Pixídio: abre-se através de um septo transversal, peparando-se uma espécie de "tampinha" conhecida por opérculo, por exemplo: jequitibá, eucalipto, sapucaia, etc.
Os tipos são muito variáveis, e há várias sub-categorias para cada um deles, que são pormenorizadas em artigos próprios.
Fruto (bolota) e folhas (caducas) do Carvalho-lusitanico (Quercus lusitanicus)
A seguir vimos frutos (bolotas) do carvalho-lusitanico (Quercus lusitanica), uma espécie caducifólia que perde as folhas no inverno. Uma das explicações porque algumas plantas, sobretudo as plantas em regiões com invernos prolongados, perdem a folhagem é a sua incapacidade de fotossíntese em estações do ano sem luz suficiente. Outra explicação foca mais na falta de água e secagem devido a deshidratação.
Aqui na serra existem carvalhos caducifólios como espécies perenifolias como o carrasco (Quercus coccifera).
Frutos (bolotas) e folhas (perenes) do carrasco (Quercus coccifera)
Observamos também umas excrescências parecidas com frutos nos carvalhos, mas que na realidade são bugalhos e formados devido a um parasitismo de uma vespa.
Um bugalho no carvalho-lusitanico (Quercus lusitanicus)
Falamos também sobre um bugalho no carrasco que forneceu antigamente um corante vermelho, uma espécie de carmim.
Frutos do Medronheiro (Arbutus unedo L.)
Folha do Medronheiro (Arbutus unedo L.)
A seguir descobrimos o medronheiro (Arbutus unedo) da familia de Ericaceae, outra árvore típica da vegetação atlantico-mediterranica, com frutos vermelhos comestíveis que lembram ao sabor dos morangos. Vimos tambem uma borboleta que posa os ovos exclusivamente nas folhas do medronheiro, a borboleta do medronheiro (Charaxes jasius).
A borboleta Charaxes jasius acima de uma pinha de Pinus pinaster
Além do medronheiro vimos mais 2 arbustos da familia das Ericáceas (Ericaceae), as urzes Erica arborea e a Erica scoparia, ambos utilizados para fazer vassoras.
O Tojo (Ulex spec.) com flores e folhas transformadas em espinhas
Vimos espécies de tojo (Ulex spec.) que são usados nas aldeias como “mato” na fertilização tradicionais dos campos depois de uma decomposição nos galinheiros. Estas espécies de “mato” são fixadores de azoto do ar e por isso valiosos adubos (usados juntos com os excrementos das galinhas e de outros animais). Além de servir de adubo, estas espécies fixam também a água nos terrenos agrícolas devido aos iões (moléculas com cargas eléctricas negativas ou positivas) que se formam nestes adubos.
Vimos a seguir os frutos do pilriteiro (Crataegus monogyna) e das amoras silvestres (Rubus spec.), ambas espécies da família das rosáceas (Rosaceae). Mais tarde encontramos ainda os frutos do abrunheiro (Prunos spinosa), e da rosa canina (Rosa canina) também espécies da família de rosáceas.
Frutos do pilriteiro (Crataegus monogyna)
Frutos da Rosa canina (Rosa canina)
Fruto seco do abrunheiro (Prunus spinosa)
Também encontramas a calaminta → Calamintha spec., uma planta da familia das labiadas com aroma intenso, usado na cozinha para temperar comida.
Uma espécie cujos frutos são usados para preparação de chá é o funcho (Foeniculum vulgare) que encontramos ao longo do caminho.
Flores e frutos do funcho (Foeniculum vulgare)
No entanto, esta espécie pertence à família dos Umbelliferae (Apiaceae), uma família a que pertencem espécies de plantas altamente tóxicas e que podem confundir-se facilmente com espécies culinárias como o eipo ou a cenora da mesma (que também pertencem a família dos Umbelliferae). Um exemplo de um envenenamento trágico na história grega é a morte do filósofo Socrates por envenenamento por Cicuta (Conium maculatum), uma espécie da família das Umbelliferae (Apiaceae).
Espécies com frutos altamente venenosos e tóxicos que encontramos com ou sem frutos, foram:
Daphne gnidium – planta e frutos altamente tóxicos
Daphne gnidium em estado de floração
Tamus (Diascorea) communis – planta e frutos altamente tóxicos
Assim, os alunos tiveram boa oportunidade de conhecer uma série de espécies de plantas desta serra com frutos que na sua maioria são comestíveis ou têm até aplicações fito-terapêuticas como o fruto do pilriteiro, mas também plantas que são perigosas ou mesmo mortais quando ingeridas.
Outras imagens da caminhada (ao pé do Moinho de Água de Quiaios):