O Sector Divisório Português
Extracto de: Costa, J. C., C. Aguiar, J. H. Capelo, M. Lousã & C. Neto (1999) Biogeografia de Portugal Continental . Quercetea.
A REGIÃO EUROSIBERIANA
SUB-REGIÃO ATLÂNTICA-MEDIOEUROPEIA
SUPERPROVÍNCIA ATLÂNTICA
I PROVÍNCIA CANTABRO-ATLÂNTICA
SUBPROVÍNCIA GALAICO-ASTURIANA
1 SECTOR GALAICO-PORTUGUÊS
1A SUBSECTOR MINIENSE
1A1 SUPERDISTRITO MINIENSE LITORAL
1A2 SUPERDISTRITO DO ALVÃO-MARÃO
1A3 SUPERDISTRITO BEIRADURIENSE
1B SUBSECTOR GERESIANO-QUEIXENSE
B REGIÃO MEDITERRÂNICA
SUB-REGIÃO MEDITERRÂNICA OCIDENTAL
SUPERPROVÍNCIA MEDITERRÂNICA IBERO-ATLÂNTICA
II PROVÍNCIA CARPETANO-IBÉRICO-LEONESA
2A SECTOR ORENSANO-SANABRIENSE
SUBSECTOR MARGATO-SANABRIENSE
2B SECTOR SALMANTINO
2C SECTOR LUSITANO-DURIENSE
2C1 SUPERDISTRITO DURIENSE
2C2 SUPERDISTRITO DA TERRA QUENTE
2C3 SUPERDISTRITO DE MIRANDA-BORNES-ANSIÃES
2C4 SUPERDISTRITO ALTIBEIRENSE
2C5 SUPERDISTRITO RIBACOENSE
2D SECTOR ESTRELENSE
III PROVÍNCIA LUSO-EXTREMADURENSE
3A SECTOR TOLEDANO-TAGANO
3A1 SUBSECTOR HURDANO-ZEZERENSE
3A11 SUPERDISTRITO ZEZERENSE
3A12 SUPERDISTRITO CACERENSE
3A2 SUBSECTOR ORETANO
3B SECTOR MARIÂNICO-MONCHIQUENSE
3B1 SUBSECTOR ARACENO-PACENSE
3B11 SUPERDISTRITO ARACENENSE
3B12 SUPERDISTRITO PACENSE
3B13 SUPERDISTRITO ALTO ALENTEJANO
3B2 SUBSECTOR BAIXO ALENTEJANO-MONCHIQUENSE
3B21 SUPERDISTRITO SERRANO-MONCHIQUENSE
3B22 SUPERDISTRITO BAIXO ALENTEJANO
IV PROVÍNCIA GADITANO-ONUBO-ALGARVIENSE
4A SECTOR DIVISÓRIO PORTUGUÊS
4A1 SUBSECTOR BEIRENSE LITORAL
4A2 SUBSECTOR OESTE-ESTREMENHO
4A21 SUPERDISTRITO COSTEIRO PORTUGUÊS
4A22 SUPERDISTRITO BERLENGUENSE
4A23 SUPERDISTRITO ESTREMENHO
4A24 SUPERDISTRITO OLISSIPONENSE
4A25 SUPERDISTRITO SINTRANO
4B SECTOR RIBATAGANO-SADENSE
4B1 SUPERDISTRITO RIBATAGANO
4B2 SUPERDISTRITO SADENSE
4B3 SUPERDISTRITO ARRABIDENSE
4C SECTOR ALGARVIENSE
4C1 SUPERDISTRITO COSTEIRO VICENTINO
4C2 SUPERDISTRITO PROMONTÓRIO VICENTINO
4C3 SUPERDISTRTO ALGÁRVICO
Província Gaditano-Onubo-Algarviense
A Província Gaditano-Onubo-Algarviense é uma unidade biogeográfica essencialmente litoral que se estende desde a Ria de Aveiro até aos areais da Costa del Sol e aos arenitos das serras gaditanas do Campo de Gibraltar. Inclui os Sectores Divisório Português , Ribatagano-Sadense , Algarviense , Gaditano-Onubense e Algíbico . Os substratos predominantes são arenosos e calcários.
A flora e vegetação desta Província é rica em endemismos paleomediterrânicos e paleotropicais lianóides e lauróides de folhas coriáceas 13 . Devido ao carácter ameno (oceânico ou hiperoceânico), com quantidades de frio invernal muito baixas, numerosas plantas termófilas e de gemas nuas encontraram neste território litoral e sublitoral o seu refúgio, tendo sido pouco afectadas pelas sucessivas glaciações. Estas plantas, próprias dos bosques termófilos de carácter oceânico ( Quercion broteroi p.p. e Querco-Oleion sylvestris ), desaparecem dos azinhais, sobreirais e carvalhais mais continentais porque não puderam recolonizar as áreas mais frias do interior da Península Ibérica durante o Holoceno 14 . Esta particularidade climática e paleo-ecológica, permitiu ainda a entrada de inúmeros elementos mauritânicos e pôntico-índicos, assim como a persistência dos referidos elementos terciários paleomediterrânicos em comum com a Sub-região Macaronésica (e.g. Myrica faia , Convolvulus fernandesii , Cheilantes guanchica , Polypodium macaronesicum , Woodwardia radicans , etc.). As principais vias migratórias florísticas que confluem neste território são as vias litoral mediterrânica e a correspondente à dorsal calcária bética (das Baleares ao Barrocal algarvio). Do Norte, por seu turno, chegaram sucessivamente táxones atlânticos planifólios e de folha branda da classe Querco-Fagetea , nos períodos em que o macroclima temperado atingiu latitudes mais baixas ( Acer spp., Querci caducifólias, Ilex , Inula , Sorbus , etc.). As ericáceas atingiram também esta Província na mesma altura (sobretudo durante o Período atlântico). De modo análogo, a flora predominante nos matagais altos (nanofanerofíticos) – Asparago-Rhamnion ( Pistacio-Rahmanetalia alaterni ) possui uma grande riqueza em arbustos com origem paleotropical xérica (sp. de Olea , Pistacia , Rhamnus , Myrtus , Asparagus , etc.), que sobreviveram à transição do clima tropical para o mediterrânico durante o Miocénico. Estes ocorrem ainda como comunidades permanentes ou etapas de substituição em territórios não muito pluviosos e quentes.
A Província Gaditano-Onubo-Algarviense constitui assim, uma extensa área de provável especiação a partir de genótipos diversos (e muito mais antigos) dos ocorrentes nas áreas não costeiras do Ocidente da Península (e.g. Stauracanthus spp.). Diversas vias de migração florística , que têm contribuido de forma muito importante para a “pool” genética muito rica e original desta área. São de destacar as duas vias litorais (uma ascendente, nos substractos dunares móveis e halófílicos, por onde migram táxones mediterrânicos e uma descendente, sub-litoral que desloca táxones atlânticos). Há que considerar uma importante via migratória bética que consiste na dorsal calcária deste a Serra Nevada ao Barrocal algarvio. Muitas das populações de táxones calcícolas gaditano-onubo-algarvienses tem origem em elementos vindos por esta via. Por seu turno, há que considerar a ocorrência das populações com origem numa via norte-africana (táxones iberomauritânicos).
A sua flora inclui assim, numerosos endemismos de que se podem destacar os seguintes táxones: Arabis sadina , Armeria gaditana , Armeria macrophylla , Armeria velutina , Arenaria algarbiensis , Biarum galiani , Brassica barrelieri subsp . oxyrrhina , Cirsium welwitschii , Cistus libanotis , Dianthus broteri subsp . hinoxianus , Erica umbellata var. major , Euphorbia baetica , Euphorbia welwitschii , E. transtagana , Fritilaria lusitanica var. stenophylla , Helichrysum picardii subsp. virescens , Herniaria maritima , Juncus valvatus , Leuzea longifolia , Loeflingia tavaresiana , Limonium algarviense , Limonium diffusum , Limonium lanceolatum , Linaria lamarckii , Linaria ficalhoana , Narcissus calcicola , Narcissus gaditanus , Narcissus wilkolmmii , Romulea ramiflora subsp. gaditana , Salvia sclareoides , Scilla odorata , Scrophularia sublyrata , Serratula baetica subsp. lusitanica , Stauracanthus genistoides , Stauracanthus spectabilis subsp. vicentinus , Thymus albicans , Thymus mastichina subsp. donyanae , Thymus carnosus , Ulex airensis , Ulex subsericeus , Ulex australis subsp. australis , U. australis subsp. welwitschianus , Verbascum litigiosum .
Existem outras espécies que são preferenciais deste território como Armeria pungens , Arthrocnemum macrostachyum , Asparagus albus , Asparagus aphyllus , Bartsia aspera , Carduus meonanthus , Ceratonia siliqua , Cheirolophus sempervirens , Corema album , Deschampsia stricta , Fumana thymifolia , Genista tournefortii , Halimium calycinum , Halimium halimifolium , Lavandula pedunculata subsp. lusitanica , Limoniastrum monopetalum , Lotus creticus , Nepeta tuberosa , Osyris lanceolata (= O. quadripartita ), Quercus faginea subsp. broteroi , Quercus lusitanica , Retama monosperma , Stachys germanica subsp. lusitanica , Stachys ocymastrum , Stauracanthus boivinii , Sideritis hirsuta var. hirtula , Thymus villosus s.l., etc.
A sua vegetação é consequentemente e como referido, extremamente original do ponto de vista sintaxonómico . Os bosques potenciais correspondem a várias associações termófilas, Arisaro-Quercetu broteroi * e Viburno tini-Oleetum sylvestris * ( Quercion broteroi e Querco-Oleion ). Os bosques Oleo-Quercetum suberis , Myrto-Quercetum suberis , Asparago aphylli-Quercetum suberis *, Smilaco-Quercetum rotundifoliae . Os matagais Asparago albi-Rhamnetum oleoidis , Asparago aphylli-Myrtetum communis *, Quercetum cocciferae-airensis * e Melico arrectae-Quercetum cocciferae * constituem a vegetação florestal e nanofanerofítica endémica da Província. Ressalta também a originalidade sintaxonómica da vegetação não florestal, são exemplos: as charnecas com matos psamofílicos da Stauracantho genistoidis-Halimietalia commutati ( Coremion albi *); as associações psamofílicas dunares Osyrio quadripartitae-Juniperetum turbinatae *, Rubio longifoliae-Coremetum albi * e Artemisio crithmifoliae-Armerietum pungentis *; a a comunidade de arribas costeiras Querco cocciferae-Juniperetum turbinatae *; as subalianças de tojais Stauracanthenion boivinii , e outra de orlas florestais xeroficohumícolas Stachydo lusitanicae-Cheirolophenion sempervirentis *; a aliança rupícola Calendulo lusitanicae-Anthirrhinion linkiani * ( Sileno longiciliae-Anthirrhinetum linkiani *). Os freixiais do Ranunculo ficario-Fraxinetum angustifoliae e os salgueirais Viti sylvestris-Salicetum atrocinereae e Salicetum atrocinereo-australis ocorrem nesta Província, bem como os silvados do Lonicero hispanicae-Rubetum ulmifoliae . Os sapais também posuem vegetação original: Spartinetum maritimi , Sarcocornio perennis-Puccinellietum convolutae *, Cistancho phelypaeae-Arthrocnemetum fruticosae *, Halimiono portulacoidis-Sarcocornietum alpini , Inulo crithmoidis-Arthrocnemetum glauci *, Arthrocnemo glauci-Juncetum subulati juncetosum subulati e juncetosum maritimi , C istancho phelypaeae-Suaedetum verae *, Polygono equisetiformis-Juncetum maritimi *, Salicornietum fragilis , Halimiono portulacoidis-Salicornietum patulae *. Nos muros das salinas e outros biótopos halonitrófilos desenvolvem-se as comunidades: Spergulario bocconei-Mesembryanthemetum nodiflori * e Frankenio laevis-Salsoletum vermiculatae *.
O Sector Divisório Português que se estende desde a Ria de Aveiro , prolonga-se para o interior pelo vale do Mondego até à base da Serra do Açor , seguindo a área de calcários até Tomar até atingir a Lezíria do rio Tejo . É um território litoral plano com algumas serras de baixa altitude, sendo a mais elevada a da Lousã com 1204 metros de altitude. Encontra-se quase todo situado no andar mesomediterrânico inferior de ombroclima sub-húmido a húmido, com excepção das zonas litorais e olissiponenses que são termomediterrânicas superiores sub-húmidas. Possui alguns endemismos próprios ( Scrophularia grandiflora , Senecio doronicum subsp. lusitanicus , Ulex jussiaei ), além dos exclusivos das unidades inferiores. No entanto, a maioria dos suas espécies endémicas são comuns com o Superdistrito Arrabidense , como por exemplo: Anthirrhinum linkianum , Arabis sadina , Iberis procumbens subsp. microcarpa , Juncus valvatus , Pseudarrhenatherum pallens , Prunus spinosa subsp. insititioides , Serratula estremadurensis , Silene longicilia , Teucrium polium subsp. capitatum , Thymus zygis subsp. sylvestris , Ulex densus . Também ajudam a caracterizar o território Calendula suffruticosa subsp. lusitanica , Hyacintoides hispanica , Laurus nobilis , Leuzea longifolia , Quercus faginea subsp. broteroi , Quercus lusitanica , Scilla monophyllos , Serratula baetica subsp. lusitanica , Serratula monardii . A vegetação é original, de onde se salientam os bosques de carvalho-cerquinho ( Arisaro-Quercetum broteroi ), os carrascais ( Melico arrectae-Quercetum coccciferae e Quercetum coccifero-airensis ) e os arrelvados ( Phlomido lychnitidis-Brachypodietum phoenicoidis ), bem como os sobreirais ( Asparago aphylli-Quercetum suberis ), os matagais de carvalhiça ( Erico-Quercetum lusitanicae ), os tojais de tojo-durázio ( Lavandulo luisieri-Ulicetum jussiaei ), e também os carvalhais termófilos de carvalho-roble ( Rusco aculeati-Quercetum roboris viburnetosum tini ).
A posição do Sector Divisório Português não é pacífica, pois este já esteve incluido na Província Luso-Extremadurense (RIVAS-MARTÍNEZ, 1985, LADERO et al. 1987), devido à sua vegetação potencial pertencer ao Quercion broteroi , mas no presente trabalho seguimos o critério de RIVAS-MARTÍNEZ et al. (1990). Possui dois Subsectores: o Beirense Litoral e o Oeste-Estremenho .
Beirense Litoral 16 é um Subsector essencialmente silicioso, com algumas ilhas calcárias ( Serra da Boa Viagem e Cantanhede ). A região costeira é mais ou menos plana mas torna-se acidentada em direcção ao interior. Estende-se a partir das areias e arenitos litorais de Leiria até à Ria de Aveiro , penetrando pelo vale do Mondego até à Serra do Açor . Encontra-se posicionada no andar mesomediterrânico com a excepção do vale do baixo Mondego a oeste de Coimbra que está no termomediterrânico e ombroclima subhúmido a húmido. O Narcissus scaberulus é uma espécie endémica deste território, sendo os híbridos Quercus x coutinhoi ( Q. robur x Q. faginea subsp. broteroi ), Quercus x andegavensis ( Q. robur x Q. pyrenaica ) e Quercus x neomarei ( Q. pyrenaica x Q. faginea subsp. broteroi ) quase exclusivos do Beirense Litoral. Erica cinerea , Halimium alyssoides , Halimium ocymoides e Pseudarrhremnatherum longifolium são espécies diferenciais desta unidade. É a área por excelência dos carvalhais termófilos de carvalho-roble: Rusco aculeati-Quercetum roboris viburnetosum tini . A sua orla arbustiva é uma comunidade endémica em que domina o azereiro ( Prunus lusitanica ) - Frangulo alnae-Prunetum lusitanicae - que muitas vezes se encontra em contacto já com o amial mesofítico Scrophulario-Alnetum glutinosae . O urzal Ulici minoris-Ericetum umbellatae é uma das etapas regressivas do carvalhal mais abundantes. Contudo, grande parte do território é ocupada pelos bosques de sobreiro - Asparago aphylli-Quercetum suberis - e pelas suas etapas subseriais: Erico-Quercetum lusitanicae e Lavandulo luisieri-Ulicetum jussiaei ulicetosum minoris . A subassociação ulicetosum minoris da associação Lavandulo luisieri-Ulicetum jussiaei é endémica do Beirense Litoral , assim como os bosques do Arisaro-Quercetum broteroi quercetosum roboris que se encontram nos calcários descalcificados desta área. No sapal do rio Mondego observam-se comunidades mediterrânicas, ainda que empobrecidas como o Inulo crithmoidis-Arthrocnemetum glauci , quer como associações atlânticas como o Limonio-Juncetum maritimi e o Inulo crithmoidis-Elymetum pycnanthi .
O Subsector Oeste-Estremenho é um território onde predominam as rochas calcárias duras do Jurássico e Cretácico com algumas bolsas de arenitos cretácicos. A maioria dos seus endemismos como já foi dito são comuns com o Arrabidense 17 . Contudo possui alguns táxones exclusivos como Armeria welwitschii subsp. welwitschii , Rhynchosinapis monensis subsp. cintrana , Dianthus cintranus subsp. barbatus , Limonium laxiusculum , Limonium multiflorum , Saxifraga cintrana , Ulex jussiaei var. congestus . Por outro lado são diferenciais do território Bartsia aspera , Cistus albidus , Delphinum pentagynum , Fumana thymifolia , Genista tournefortii , Phlomis lychitis , Prunella x intermedia , Prunella vulgaris subsp. estremadurensis , Quercus x airensis , Salvia sclareoides , Sideritis hirsuta var. hirtula , Ulex densus . Predominam as séries de vegetação dos carvalhais de carvalhocerquinho ( Arisaro-Quercetum broteroi — > Melico arrectae-Quercetum cocciferae — > Phlomido lychitidis-Brachypodietum phoenicoides — > Salvio sclaareoidis-Ulicetum densi ) e dos sobreirais ( Asparago aphylli-Quercetum suberis — > Erico-Quercetum lusitanicae —> Lavandulo luisieri-Ulicetum jussiaei ). As orlas dos carvalhais Vinco difformis-Lauretum nobilis , Leucanthemo sylvaticae-Cheirolophetum sempervirentis , Lonicero hispanicae-Rubetum ulmifoliae prunetosum insititioidis , os tojais Salvio sclareoidis-Ulicetum densi ulicetosum densi e Daphno maritimi-Ulicetum congesti , a associação dunar A rmerio welwitschii-Crucianellietum maritimi e a comunidade casmofítica aero-halina Limonietum multiflori-virgatae são endémicas deste Subsector. A aliança Calendulo-Anthirrinion linkiani com a associação Sileno longiciliae-Anthirrhinetum linkiani , a comunidade nitrófila de muros Centranthi rubi-Anthirrhinetum linkiani e o juncal de solos calcários mal drenados Juncetum acutifloro-valvati , apesar de comuns com o Arrabidense, tem a maior expressão nesta unidade. O Estremenho, Olissiponense, Sintrano, Costeiro Português e Berlenguense são os Superdistritos que ocorrem nesta unidade.
O Superdistrito Estremenho é essencialmente calcícola com algumas bolsas de arenitos e situa-se no andar mesomediterrânico inferior húmido a sub-húmido. Possui uma uma cadeia de serras calcárias de baixa altitude que não ultrapassam os 670 m, ( Serras do Sicó , Rabaçal , Alvaiázere , Aire , Candeeiros e Montejunto ). A zona mais costeira é mais baixa, e tem um relevo ondulado de pequenas colinas. Asplenium ruta-muraria , Biarum arundanum , Cleonia lusitanica , Micromeria juliana , Narcissus calcicola , Quercus rotundifolia e Scabiosa turolensis são táxones que ocorrem neste Superdistrito e ajudam a caracterizá-lo. Além das séries de vegetação do carvalho-cerquinho ( Arisaro-Querceto broteroi S. ) e do sobreiro ( Asparago aphylli-Querceto suberis S. ), possui uma outra série florestal original. Esta série mesomediterrânica sub-húmida é encimada por bosques de azinheiras instaladas em solos derivados de calcários cársicos ( Lonicero implexae-Quercetum rotundifoliae — > Quercetum cocciferae-airensis — > Teucrium capitatae-Thymetum sylvestris ). A vegetação rupícola calcícola ( Asplenietalia petrachae-Narciso calcicolae-Asplenietum ruta-murariae ) tem um carácter algo distinto no contexto da Província. O juncal e a vegetação rupícola calcícola assinaladas para o Subsector são vulgares neste Superdistrito.
O território a norte da parte terminal do vale do Tejo , que engloba os concelhos de Lisboa, Oeiras, Cascais, Amadora, Loures, Mafra, parte de Vila Franca de Xira e Sintra, conhecido como Região saloia, constitui o Superdistrito Olissiponense . É uma área de grande variedade e riqueza geológica onde se observa um mosaico de margas, argilas, calcários e arenitos do Cretácico, rochas eruptivas do Complexo Vulcânico Lisboa-Mafra (basaltos, dioritos, andesitos), calcários e arenitos do Jurássico, arenitos, conglomerados e calcários brancos do Paleogénico e arenitos e calcários margosos do Mio-Pliocénico. O relevo é ondulado com pequenas colinas que não ultrapassam os 400 m de altitude, sendo muitas delas antigos cones vulcânicos. A paisagem agrária de minifúndio de pequenas hortas, pomares e searas separadas por sebes de Prunus spinosa subsp. insititioides ( Lonicero hispanicae-Rubetum ulmifoliae prunetosum insititiodis ) é muito típica desta unidade. Situa-se quase na sua totalidade no andar termomediterrânico superior de ombroclima sub-húmido, com exepção de uma pequena área que é mesomediterrânica inferior. Asparagus albus , Acanthus mollis , Ballota nigra subsp. foetida , Biarum galiani , Cachrys sicula , Capnophyllum peregrinum , Ceratonia siliqua , Convolvulus farinosus , Erodium chium , Euphorbia transtagana , Euphorbia welwitschii , Halimium lasianthum , Orobanche densiflora , Ptilostemmon casabonae , Rhamnus oleoides , Reichardia picroides Scrophularia peregrina , são alguns táxones diferenciais do Superdistrito. A vegetação climácica nos solos vérticos termomediterrânicos é constituida por um zambujal arbóreo com alfarrobeiras ( Viburno tini-Oleetum sylvestris ), que por degradação resulta no Asparago albi-Rhamnetum oleoidis e no arrelvado Carici depressae-Hyparrhenietum hirtae . Nas rochas vulcânicas ácidas e nos arenitos observam-se os sobreirais do Asparago aphylli-Quercetum suberis . Este sobreiral, em solos mal drenados de arenitos duros cretácicos, tem como etapa de substituição um tojal endémico do território - Halimio lasianthi-Ulicetum minoris . Por seu turno, nos luvissolos e cambissolos calcários a série florestal é a do carvalhal cerquinho Arisaro-Querceto broteroi S. , onde o tojal resultante da sua degradação - Salvio sclareoidis-Ulicetum densi ulicetosum densi tem a sua maior área de distribuição. O juncal J uncetum acutiflori-valvati ocorre no âmbito desta unidade biogeográfica em biótopos edafo-higrófilos. Alguns dos seus sintáxones endémicos de maior destaque, ocorrem nas arribas marítimas calcárias com a comunidade aero-halina Limonietum multiflori-virgati e o sabinal Querco-Juniperetum turbinatae . Nas dunas encontra-se o Loto cretici-Ammophiletum , o Armerio welwitschii-Crucianellietum e o Osyrio-Juniperetum turbinatae .
O Superdistrito Sintrano é uma "ilha" de solos siliciosos de origem granítica e sienítica da Serra de Sintra , incluida num contexto de rochas básicas. Situa-se junto ao mar pelo que seu clima tem um forte carácter oceânico. Este território é rico em elementos atlânticos eurosiberianos. A sua flora e vegetação tem um carácter reliquial, em virtude da situação bioclimática temperada. Alguns elementos florísticos que atestam este facto são: Quercus robur , Acer pseudoplatanus , Ilex aquifolium , Hypericum androsaemum , Polygonatum odoratum , Primula vulgaris , Trachelium caeruleum , Cytisus striatus var. eriocarpus e Ulex europaeus subsp. lactebracteatus . Possui alguns endemismos próprios como a Armeria pseudarmeria , Dianthus cintranus subsp. cintranus e Silene cintrana . Devido à amenidade do clima encontram-se diversas espécies macaronésicas naturalizadas de que são exemplo Aichryson dichotomum e Persea indica . No andar termomediterânico sub-húmido a húmido observa-se a série de vegetação Asparago aphylli-Quercetum suberis , que predomina até à meia encosta da Serra de Sintra. No andar mesomediterrânico sub-húmido situam-se os bosques de carvalho-negral ( Arbuto unedonis-Quercetum pyrenaicae ), enquanto que no ombrotipo húmido, especialmente nos locais onde no Verão os nevoeiros são frequentes, observam-se os bosques termófilos de carvalho-roble ( Rusco aculeati-Quercetum roboris viburnetosum tini ). O giestal de Cytisus striatus var. eriocarpus , Adenocarpus complicatus subsp. anisochilus , Ulex europaeus subsp. latebracteatus e Pteridium aquilinum ( Ulici latebracteati-Cytisetum eriocarpi ) e o tojal de Ulex minor , Ulex europaeus subsp. latebracteatus , Erica umbellata , Erica scoparia , Thymus villosus , Cistus psilosepalus etc. ( Thymo villosae-Ulicetum lactebracteati ) são as etapas regressivas dos carvalhais. No Cabo da Roca também se podem observar as comunidades anemófilas e halófilas Daphno maritimi-Ulicetum congesti e o Diantho cintrani-Daucetum halophili , esta última endémica do território.
O Superdistrito Costeiro Português é um território litoral de areias e arribas calcárias, que se estende desde a Ria de Aveiro até ao Cabo da Roca . É essencialmente termomediterrânico. Armeria welwitschii subsp. cinerea e Limonium plurisquamatum são endémicos deste Superdistrito, e Armeria welwitschii subsp. welwitschii , Corema album , Halimium halimifolium , Halimium calycinum , Herniaria maritima , Iberis procumbens , Juniperus turbinata , Limonium multiflorum , Linaria caesia subsp. decumbens , S tauracanthus genistoides , Ulex europaeus subsp. latebracteactus são alguns dos táxones diferenciais desta unidade. É neste Superdistrito, na zona de Peniche, que se encontra a fronteira entre o Otantho-Ammophiletum australis e o Loto cretici-Amophiletum australis . Estas duas comunidades, são de óptimo eurosiberiano (atlântico) e mediterrânico respectivamente, o que atesta o encontro neste território das vias migratórias litorais atlântica (descendente) e mediterrânica (ascendente). As suas dunas são a área preferencial de distribuição da comunidade de “ duna cinzenta” Armerio welwitschii-Crucianellietum maritimae . Os sabinais Osyrio quadripartitae-Juniperetum turbinatae e Querco cocciferae-Juniperetum turbinatae são as comunidades permanentes respectivamente das dunas e das arribas calcárias respectivamente. Ainda nestas arribas também se observam os tojais Daphno maritimi-Ulicetum congesti , Salvio sclareoidis-Ulicetum densi ulicetosum densi e as comunidades casmofíticas aero-halinas Limonietum multiflori-virgati e Dactylo marini-Limonietum plurisquamati , esta última endémica do superdistrito. Outras comunidades exclusivas deste território são: o mato psamofílico Stauracantho genistoidis-Coremetum albi e o medronhal dunar de carácter oceânico Myrico faiae-Arbutetum unedonis inéd. . Também ocorrem algumas lagoas, cuja vegetação hidrofítica se assemelha à que surge no Superdistrito Sadense.
O Arquipélago das Berlengas , que se encontra a Oeste de Peniche, constitui o Superdistrito Berlenguense 18 , e cuja litologia é dominada por granitos e gneisses. Tem dois endemismos: a Armeria berlengensis e a Herniaria berlengiana . Angelica pachycharpa , Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis , Cochlearia danica , Dactylis marina , Linaria spartea , Silene uniflora , Silene marizii , Scrophularia sublyrata , Spergularia rupicola são algumas das espécies que são diferenciais da unidade constituida por estas pequenas ilhas. Em relação à vegetação estão presentes as seguintes associações: Scrophulario rupicolae-Armerietum berlengensis , Scrophulario sublyratae-Suaedetum verae e Sagino maritimae-Cochlearietum danicae .
13 I.e. plantas da “durisilva” oceânica pluvial, erradamente classificada como “laurisilva” (sensu Rübel). Esta vegetação antiga, remontando aos paleo-ambientes tropicais e mediterrânicos pluviestacionais, não tendo sofrido o efeito das glaciações, persiste na Macaronésia ( Pruno-Lauretea azoricae ). A partilha de alguns táxones com esta ultima Sub-Região deu origem à expressão muito divulgada, mas errónea na opinião dos autores, “ flora” ou “elemento” “macaronésico” da flora do SW da Península.
14 Nestas últimas (Províncias Luso-Extremadurense e Carpetano-Iberico-Leonesa) o sub-bosque é dominado por plantas remanescentes das estepes semi-arborizadas tardiglaciares (clima frio, continental e seco).
15 * sintáxones endémicas da Província
15 Esta última também faz a transição entre o sapal e a duna.
16 A inserção biogeográfica desta unidade põe alguns problemas. Este território que corresponde grosso modo, à superfície de erosão do rio Mondego, não possui barreiras orográficas importantes orientadas no sentido W-E. Deste modo, é provável, que durante todo o final do Quaternário (Holoceno) a oscilação do limite entre os macroclimas Temperado e Mediterrânico tenha levado à alternância sucessiva da ocupação deste território por vegetação mediterrânica (bosques esclerófilos perenifólios) e eurosiberiana (bosques caducifólios). A referida ausência de barreiras orográficas transversais ao sentido das variações climáticas e concomitantemente das constantes migrações sucessivas de floras mediterrânicas (no sentido N) e temperadas (no sentido S), concorreram para a grande heterogeneidade da sua paisagem vegetal. Assim, constata-se que actualmente a maioria da área se situa no macroclima mediterrânico, apesar das numerosas ilhas temperadas (submediterrânicas) que ocorrem ainda nas cotas mais elevadas (e.g. Serra da Lousã ). Nestas últimas, e dependendo da exposição, os clímaces climatófilos são bosques de Quercus robur (temperado), enquanto que o restante território está ocupado pela Quercus suber (mediterrânico). Nos territórios claramente mediterrânicos, a Q. robur só surge em biótopos edafo-higrófilos com água no solo de origem freática (freixiais com carvalhos). A análise das geoséries (ômbricas) do território comprova largamente a “ subida” recente da vegetação mediterrânica. Sobretudo nas etapas sub-seriais dominam elementos mediterrânicos divisório-portugueses (e em geral gaditano-onubo-algarvienses) e.g. Ulex jussiaei , Quercus lusitanica , etc. No sub-bosque dos carvalhais robles são co-dominantes elementos próprios da classe Quercetea ilicis ( Rubia peregrina , Smilax aspera , Viburnum tinus , Phillyrea latifolia , etc.), o que demonstra igualmente a colonização recente desta unidade pelo mundo mediterrânico. Deste modo, a posição biogeográfica alternativa desta Região seria, pelas razões expostas, no Sector Galaico-Português . Optámos, no entanto, pela sua colocação no Sector Divisório-Português por uma questão de consistência com a tendência dominante da evolução da vegetação no território. O corte de bosques, a erosão dos solos e a consequente xerofilização dos biótopos acelerou a entrada dos elementos e da vegetação mediterrânica.
17 A lógica da classificação biogeográfica exige a continuidade espacial das unidades, pelo que se situa o Superdistrito Arrabidense no Ribatagano-Sadense, que o envolve completamente. Sem esta exigência formal, este Superdistrito seria naturalmente afectado ao Sector Divisório-Português.
18 Este Superdistrito unidistrital possui elementos endémicos, que justificam a sua provável categoria superdistrital. Esta originalidade resulta da presença, não só de endemismos, mas de relíquias litorais eurosiberianas ( Angelica pachycarpa ) ausentes da costa de Peniche.
Veja também:
Tabelas fitossociológicas das comunidades de dunas, arribas e matos de Murtinheira/Quaios (Sector Divisório Português).
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