Tabelas fitossociológicas das comunidades de dunas, arribas e matos de Murtinheira/Quiaios (Sector Divisório Português). Parte IIIb .
Mapa biogeográfico da área de estudo
(Extraído de: Costa, J. C. et. al. Finisterra, XXXV, 69, 2000, pp. 69-93 )
Parte IIIb - Prados (Correspondência fitosocciológica Brachypodion phoenicoidis (classe Festuco-Brometea ) nas Encostas da Serra da Boaviagem
Não tenho conhecimento de levantamentos florísticos das pradarias das encostas da Serra da Boaviagem. Estas pradarias são caracterizadas pela presença da espécie Brachypodium phoenicoides ( Correspondência fitosocciológica Brachypodion phoenicoidis (classe Festuco-Brometea) )
e encontram-se nas partes com exposição para oeste e norte em terrenos com declives elevados, frequentemente com partes rochosos à vista, sobretudo nas partes mais altas das encostas. As pradarias estão expostas aos ventos marítimos e recebem humidade elevada devido à frequente formação de nebelinas. Encontram-se aqui orquídeas e outras espécies raras como Iris lusitanica , S. doronicum e Iberis procumbens . As pradarias das encostas da Serra da Boaviagem assemelham-se às pradarias das montanhas altas e são desta forma uma autêntica raridade e preciosidade na costa portuguesa.
Pradarais na Encosta da Serra da Boaviagem - A melhor altura para a observação das espécies de orquídeas em estado de floração são os mêses abril e maio.
Nas figuras são destacados em amarelo áreas na Encosta da Serra da Boaviagem com os prados secos. As áreas mais rochasas de tipo "prados rupícolas calcários ou basófilos"(habitat 6110 ), provavelmente importantes refúgios para os geófitos, também são bem visíveis nas fotografias (áreas acinzentadas). Os prados rupícolas formam frequentemente mosáicos com os prados secos (habitat 6210 ). As áreas de prados secos estão provavelmente numa fase transitória de arborazição, outras do tipo prados rupícolas podem estar num estado mais estável. Porém, não parece ser bem conhecido o processo da successão e evolução das pradarias na serra da Boaviagem.
Com a introdução de espécies novas e invasoras existe o perigo que estas pradarias, possivelmente não apenas resultado de acção antropogénica como o pastoreio, serem destruidas. No entanto, houve intenso pastoreio nesta encosta há umas decadas atrás. Segundo testemunho de um habitante da Murtinheira, esta pessoa tive mais de 50 peças de ovelhas e cabras que pastavam nesta encosta, houve pastoreio intenso e não houve tanto "mato" na encosta como agora. Apenas uma observação contínua e registos contínuos podem revelar alterações da flora e fauna por introdução de espécies novas e invasoras, incluindo também o controlo de acções turísticas, fogos etc... A plantação do eucalípto que também se observa em partes da encosta, é totalmente catastrófico sobre estes habitats. Mas parece que espécies invasoras muito agressivas, coma as acácias, tomam também conta de uma grande parte da área potencial das pradarias. Contudo, a expansão das acácias tem se observado sobretudo em terronos arenosos ou com elevado conteor de silicato, isto são as dunas arborizadas e parte oriental da Serra da Boaviagem perto do Farol e Cabo Mondego com solos com base em arenites.
Não conheço a história de introdução do Pinus halepensis , chamado o Pinheiro-do-aleppo ou Pinheiro-francês e proveniente do Mediterrânico, que à primeira vista parece outro candidato de destruição das pradarias. Porém, tanto o Pinus halepensis como as acácias podem ter limitações de adaptabilidade nas partes mais rochosas e mais expostas aos ventos marítimos.
Pinheiro-do-Aleppo ( Pinus halepensis )
No entanto, existe uma grande diferença entre estas últimas duas espécies com respeito ao fogo: enquanto o fogo reduz a área de distribuição e a abundância do Pinus halepensis dando desta forma espaço para novas pradarias, o fogo, ao contrário, ainda refortalece a distribuição e a abundância das acácias e dos eucalíptos. Isto porque o eucalípto e as acácias são plantas pirrofíticas - quer dizer o fogo ajuda a semente destas espécies (de proveniência da australia) a germinar. Por esta causa o Pinus halepensis pode até ajudar a manter as pradarias enquanto o eucalípto e as acácias as destroem.
O ICN fornece na publicação sobre o habitat 6210 - Prados secos seminaturais e facies arbustivas em substrato calcário ( Festuco-Brometalia ) (* importantes habitats de orquídeas) - as seguintes informações e recomendações para a conservação deste habitat:
Grau de conservação
- Em bom estado de conservação, na generalidade.
Ameaças
- Progressão sucessional.
- Fogo com ciclos de recorrência muito curtos.
- Pastoreio excessivo.
- Nitrofilização por gado bovino:
- o bioindicadores – presença de Carduus sp. pl., Galactites tomentosa , Scolymus hispanicus , Sylibum marianum , Carlina racemosa ; regressão das populações de orquídeas (vd. Caracterização).
Objectivos de conservação
- Conversão até 50% da área pobre em orquídeas, exclusivamente por progressão sucessional.
- Manutenção da restante área de ocupação.
- Manuetenção do grau de conservação.
Orientações de gestão
- Travar a sucessão ecológica.
- Utilização de fogo controlado com periodicidade de 15 anos em até 50% da área de distribuição actual.
- Manutenção do pastoreio extensivo por gado ovino.
- Condicionar o pastoreio por bovinos e a localização dos currais.
Para os "Prados rupícolas calcários ou basófilos da Alysso-Sedion albi " (habitat 6110) o estado e medidas de conservação são descritos pelo ICN como:
Grau de conservação
- Variável, estando, de um modo geral, os biótopos mais interessantes (em termos de composição florística) em mau estado de conservação.
Ameaças
- Destruição directa do habitat, particularmente grave nos pontos superiores dos sistemas montanhosos calcários portugueses, nomeadamente através de:
- explorações de pedreiras;
- construções;
- aterros;
- abertura ou alargamento de estradas.
- Sobrepastoreio com bovinos.
Objectivos de conservação
- Manutenção da área de ocupação.
- Melhoria do grau de conservação.
Orientações de gestão
- Condicionar a exploração de pedreiras na área de ocupação do habitat
- Reforçar a fiscalização sobre as pedreiras ilegais.
- Condicionar obras que impliquem a destruição directa do habitat.
- Condicionar a pastorícia com bovinos na área de ocupação do habitat.
Tomando em consideração a progressiva e incontrolada expansão das acácias na serra da Boaviagem, as pradarias do habitat 6210 e possivelmente também do habitat 6110 das encostas da Serra da Boaviagem (sobretudo da parte sul-este perto do Farol e Cabo Mondego) estão em perigo imanente de desapericemento ou de redução substancial devido à esta expansão. Neste caso concreto, as medidas e orientação de gestão das pradarias dadas pelo ICN não são aplicáveis porque as acácias são favorecidas na expansão pela aplicação de fogos. A outra parte norte-oeste da Serra da Boaviagem (por baixo do Mirador da Bandeira) está em igual perigo de destruição devido à incontrolada plantação de euclípto (que deve atingir já mais do que 40% nesta zona).
Tabela XIV . – Espécies de hemicriptófitos e geófitos encontradas nas Encostas da Serra da Boaviagem
Brachypodium ?phoenicoides |
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?Avena barbata |
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? |
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Iris lusitanica |
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