As “Dunas cinzentas”
Código EUNIS 2002
B1.4/P-16.223; B1.4/P-16.227
Código Paleártico 2001
16.22
CORINE Land Cover
3.3.1.
Linaria caesia Iberis procumbens
São Jacinto (C. Neto) São Jacinto (C. Neto)
Duna cinzenta Duna cinzenta
São Jacinto (C. Neto) Tróia (C. Neto)
Protecção legal
• Decreto-Lei nº 140/99 de 24 de Abril – Anexo B-I.
• Directiva 92/43/CEE – Anexo I.
Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Habitats 129
Distribuição EUR15
• Região Biogeográfica Atlântica: Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Irlanda,
Portugal e Reino Unido.
• Região Biogeográfica Mediterrânica: Espanha e Portugal.
Proposta de designação portuguesa
• Dunas cinzentas.
Diagnose
• Dunas cinzentas dominadas por comunidades arbustivas camefíticas psamófilas.
Subtipos
• Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Armeria pungens e Thymus carnosus (2130pt1).
• Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Armeria welwitschii (2130pt2).
• Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Helichrysum picardii e Iberis procumbens e
caracterizados pela ausência de Armeria sp. pl. (2130pt3).
Caracterização
• As dunas cinzentas ou penestabilizadas diferenciam-se das dunas instáveis (vd. habitates 2110 e 2120)
pela estabilidade das suas partículas arenosas (a areia movimenta-se apenas em pequenos corredores de
deflação sem movimentação nas cristas).
• São constituídas por uma sucessão de cristas e corredores interdunares, com frequência por entre dunas
parabólicas.
• Localizam-se entre o cordão dunar litoral instável (vd. habitates 2110 e 2120) e as dunas estabilizadas
para o interior.
• Constituem o habitat de:
o comunidades arbustivas de baixo porte (camefíticas) (Crucianellion maritimae, classe
Ammophiletea) – são as mais conspícuas, têm um grau de cobertura muito elevado e um importante
papel na estabilização das areias dunares;
o comunidades de terófitos psamófilos não nitrófilos (Malcolmietalia, classe Helianthemetea, vd.
habitat 2230) – ocupam as clareiras das comunidades anteriores;
o comunidades de terófitos seminitrófilos (Stellarietea mediae, Linario polygalifoliae-Vulpion
alopecuroris) – são favorecidas pela perturbação das dunas.
• Óptimo sinecológico:
o regossolos psamíticos de fraca espessura, distribuídos de forma quase contínua, baixa percentagem
de matéria orgânica, baixa salinidade e pH neutro a ácido.
o biótopos xéricos, termófilos e heliófilos, abrigados dos ventos marinhos.
• As comunidades da duna penestabilizada estão inseridas no microgeosigmetum psamófilo litoral de
praia-sistemas dunares, onde as associações se dispõem ao longo de um gradiente forte de vários factores
ambientais (mobilidade do substrato arenoso, salinidade do solo e do ar, evolução pedogenética, etc).
• Espacialmente localizam-se entre (contactos catenais) as comunidades hemicriptofíticas da duna branca
(habitat 2120) e as comunidades nanofanerofíticas da duna estabilizada (vd. habitates 2180, 2250, 2260 e
2270).
• Incluem-se neste habitat as dunas de areias eólicas sobre plataformas de arenitos ou xistos do litoral
alentejano e Costa Vicentina. Estas dunas, correntemente designadas por “dunas sobreelevadas”, podem
localizar-se em plataformas com mais de 60 m de altura e contactam catenalmente, em direcção ao mar,
com comunidades de falésias ou arribas litorais de Crithmo-Limonietea (vd. habitat 1240).
Distribuição e abundância
Escala temporal (anos desde o presente) -103 -102 -101
Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Habitats 130
Variação da área de ocupação ↑ ↓ ↓
Serviços prestados
• Prevenção de fenómenos catastróficos.
• Retenção do solo.
• Fornecimento de água.
• Refúgio de biodiversidade.
o Endemismos lusitanos: Armeria welwitschii, Coincya johnstonii, Jasione lusitana, Herniaria
maritima, Malcolmia alyssoides, Verbascum ligiosum.
o Outras plantas de distribuição restrita: Anthemis maritima, Armeria pungens subsp. pungens,
Linaria caesia subsp. decumbens, L. lamarckii, Herniaria ciliolata subsp. robusta, Matthiola
sinuata, Thymus carnosus.
• Recursos genéticos.
• Informação estética.
• Recreação.
• Informação artística e cultural.
• Educação e ciência.
Conservação
Grau de conservação
• Em geral de baixo a médio.
• Nas praias mais frequentadas, o pisoteio conduz à redução muito significativa da área ocupada. Nestes
casos o grau de conservação é muito fraco.
• Parte destes sistemas dunares para Norte de Quiaios foi substituído por maceiras.
• As dunas cinzentas em melhor estado de conservação situam-se na costa de São Jacinto (Dunas de São
Jacinto).
• A Sul do Sado até Sines existem algumas áreas bem conservadas.
• No litoral meridional (Algarve) o estado de conservação é, em geral, muito baixo, sendo urgente o
ordenamento do acesso às praias e dos respectivos parques de estacionamento.
Ameaças
• Pressão imobiliária e turística, progressivamente mais elevada.
• Sobreutilização de praias, com excesso de pisoteio no acesso à praia. O pisoteio provoca a destabilização
da duna e a mobilização da areia, com uma consequente invasão das comunidades de Ammophila da
duna branca ou das comunidades da Linario-Vulpion.
• Invasão por flora exótica (e.g. Acacia sp. pl., Cortaderia selloana, Carpobrotus edulis)
• Circulação de veículos.
• Extracção de areias.
• Subida do nível do mar, com consequente migração dos sistemas dunares móveis para o interior e
compressão das dunas secundárias.
• Emagrecimento das praias por redução do aport de sedimentos.
• Obras de engenharia costeira (paredões, molhes, pontões e esporões) indutoras de alterações ao regime
de correntes e à dinâmica sedimentar.
• Pastoreio.
Objectivos de conservação
• Manutenção da área de ocupação.
• Manutenção do estado de conservação onde este é bom. Melhoria do estado de conservação médio,
através da recuperação das áreas degradadas do habitat.
Orientações de gestão
• Instalar informação nas áreas balneares sobre a localização, importância para a conservação e precauções
a tomar face ao habitat.
Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Habitats 131
• Colocar paliçadas e/ou vedar as áreas a recuperar ou necessitadas de protecção.
• Ordenar o acesso pedonal às praias através da delimitação de trilhos e, se conveniente, construindo
passadiços sobreelevados.
• Ordenar o parqueamento automóvel junto às praias.
• Reforçar a fiscalização dos acessos e a circulação de veículos motorizados.
• Interditar a instalação de parques de estacionamento automóvel no cordão dunar.
• Reforçar a fiscalização sobre a edificação no cordão dunar.
• Reforçar a fiscalização sobre a extracção de areias.
• Recuperação de antigos areeiros.
• Plantação de taxa característicos das dunas cinzentas para recuperação de locais onde a comunidade
apresente uma degradação significativa.
• Desenvolvimento de programas de erradicação ou controlo de invasoras (nomeadamente de Acacia sp.
pl., Cortaderia selloana e Carpobrotus edulis).
• Condicionar as obras de engenharia costeira que alterem a dinâmica de sedimentos junto à costa,
conduzindo à perda de sedimentos para o largo, com um consequente emagrecimento da praia.
• Interdição ao pastoreio.
Outra informação relevante
• A estabilidade do cordão dunar, no que são fundamentais as comunidades camefíticas, protege os
ecossistemas naturais, semi-naturais e artificiais mais interiores.
• Os matos camefíticos das dunas cinzentas contribuem fortemente para a conservação dos solos que aí se
originam e para a protecção e reabastecimento das toalhas freáticas de água doce.
• As comunidades camefíticas de dunas cinzentas são das mais ricas em endemismos e plantas de Portugal
continental.
Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por
Armeria pungens e Thymus carnosus 2130pt1
Correspondência fitossociológica
• Artemisio crithmifoliae-Armerietum pungentis (Crucianellion maritimae, classe Ammophiletea).
Caracterização
• Duna cinzenta dominada por vegetação camefítica, termófíla e psamófila que cobre quase totalmente o
solo.
• A composição florística é dominada por Armeria pungens subsp. pungens, Artemisia crithmifolia,
Helichrysum italicum subsp. picardii e Thymus carnosus.
Distribuição e abundância
Escala temporal (anos desde o presente) -103 -102 -101
Variação da área de ocupação ↑ ↓ ↓
• Dunas semifixas (cinzentas) e dunas sobreelevadas do litoral a Sul do rio Tejo.
• Sectores Ribatagano-Sadense e Algarvio.
• Este subtipo é relativamente abundante no litoral para Sul do rio Tejo, verificando-se no entanto uma
ligeira tendência de diminuição.
Bioindicadores
• Presença de Thymus carnosus, Armeria pungens subsp. pungens.
• Ausência de Armeria welwitschii, Jasione lusitana, Linaria caesia subsp. decumbens.
Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Habitats 132
Serviços prestados
• Refúgio de biodiversidade.
o Habitat de um elevado número de endemismos e plantas de distribuição restrita, e.g. Thymus
carnosus, Armeria pungens subsp. pungens, Linaria lamarckii.
• Vd. habitat 2130.
Conservação
• Vd. habitat 2130.
Duna cinzenta com matos camefíticos dominados
por Armeria welwitschii 2130pt2
Correspondência fitossociológica
• Armerio welwitschii-Crucianelletum maritimae (Crucianellion maritimae, classe Ammophiletea).
Caracterização
• Este habitat corresponde às dunas cinzentas entre o Rio Tejo e Quiaios.
• Têm um carácter menos termófilo que o subtipo anterior.
• Caracterizam-se pela presença do endemismo lusitano Armeria welwitschii e ainda por espécies
importantes como Linaria caesia subsp. decumbens e Herniaria ciliolata subsp. robusta.
• Como espécies dominantes ocorrem Artemisia crithmifolia, Crucianella maritima, Helichrysum italicum
subsp. picardii, Malcolmia littorea, Ononis natrix subsp. ramosissima.
Distribuição e abundância
Escala temporal (anos desde o presente) -103 -102 -101
Variação da área de ocupação ↑ ↓ ↓
• Dunas semifixas (cinzentas) do litoral entre o Rio Tejo e Quiaios.
• Superdistrito Costeiro Português (Sector Divisório Português, Província Gaditano-Onubo-Algarvia).
• A comunidade arbustiva camefítica característica deste subtipo é endémica de Portugal e ocupa somente
cerca de 15% do litoral.
• A sua abundância é relativamente baixa e a tendência actual é de redução da área ocupada.
Bioindicadores
• Presença de Armeria welwitschii, Helichrysum italicum subsp. picardii.
• Ausência de Thymus carnosus, Armeria pungens subsp. pungens, Jasione lusitanica (= Jasione montana
var. sabularia).
Serviços prestados
• Refúgio de biodiversidade.
o Diversos endemismos, e.g. Armeria welwitschii e Verbascum litigiosum.
• Vd. habitat 2130.
Conservação
• Vd. habitat 2130.
Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Habitats 133
Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por
Helichrysum picardii e Iberis procumbens e
caracterizados pela ausência de Armeria sp. pl. 2130pt3
Correspondência fitossociológica
• Iberidetum procumbentis
Caracterização
• Dunas cinzentas de carácter menos termófilo do que os subtipos anteriores e submetidas a grande
frequência de nevoeiros estivais.
• Caracterizam-se pela presença de Scrophularia frutescens, Iberis procumbens subsp. procumbens,
Helichrysum italicum subsp. picardii e dos endemismos lusitanos Coincya johnstonii e Jasione
lusitanica (=Jasione montana var. sabularia).
• Como espécies dominantes ocorrem Artemisia crithmifolia, Crucianella maritima, Helichrysum italicum
subsp. picardii, Malcomia littorea.
Distribuição e abundância
Escala temporal (anos desde o presente) -103 -102 -101
Variação da área de ocupação ↑ ↓ ↓
• Dunas semifixas (cinzentas) do litoral a Norte de Quiaios.
• Superdistrito Miniense Litoral.
• A comunidade está bem representada para Norte de Aveiro, mas a tendência é de diminuição.
Bioindicadores
• Presença de Iberis procumbens subsp. procumbens, Linaria caesia subsp. decumbens, Jasione lusitanica
(= Jasione montana var. sabularia).
• Ausência de Armeria pungens subsp. pungens, Armeria welwitschii, Thymus carnosus.
Serviços prestados
• Refúgio de biodiversidade.
o Elevado número de endemismos, e.g. Coincya johnstonii, Jasione lusitanica.
• Vd. habitat 2130.
Conservação
• Vd. habitat 2130.
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