COSTA, J.C. (2001) – Tipos de vegetação e adaptações das plantas do litoral de
Portugal continental.
In Albergaria Moreira, M.E., A. Casal Moura, H.M. Granja & F.
Noronha (ed.) Homenagem (in honorio) Professor Doutor Soares de Carvalho: 283-
299. Braga. Universidade do Minho.
TIPOS DE VEGETAÇÃO E ADAPTAÇÕES DAS PLANTAS DO LITORAL DE
PORTUGAL CONTINENTAL
José Carlos Costa
Professor-Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia
Em nenhuma parte do Globo terrestre, mesmo na vizinhança dos vulcões, se
observa uma mudança tão permanente e tão rápida dos processos inorgânicos e bióticos
como nas costas marítimas (Tüxen, 1975). No litoral português podemos encontrar três
tipos de formações distintas: de dunas, de sapais e de arribas. Estes meios são de difícil
sobrevivência, pois em todos eles existe uma fraca disponibilidade de água, baixo teor
de elementos nutritivos essenciais e acção abrasiva do mar, vivendo por isso em
condições de secura fisiológica. As plantas para ultrapassarem estas limitações
respondem com adaptações de natureza morfológica, anatómica, fenológica e
fisiológica (Waisel, 1972).
Segundo Costa et al. (1998) Portugal continental distribui-se pela Região
Mediterrânea a sul da Ria de Aveiro e Região Eurossiberiana para norte. Todo o litoral
eurossiberiano encontra-se posicionado na Sub-região Atlântico-Medioeuropeia,
Superprovíncia Atlântica, Província Cantábrico-Atlântica, Sub-província Galaico-
Asturiana, Sector Galaico-Português, Subsector Miniense Superdistrito Miniense
Litoral. Por outro lado o litoral mediterrânico situa-se na Sub-região Mediterrânea
Ocidental, Superprovíncia Mediterrânea-Iberoatlântica, Província Gaditano-Onubo-
Algarviense; esta Província distribui-se por três Sectores: Divisório Português,
Ribatagano-Sadense e Algarviense. No Divisório Português situa-se o Subsector Oeste-
Estremenho, onde se incluem os Superdistritos Costeiro Português (entre a Ria de
Aveiro e foz do Lizandro), Berlenguense (Arquipélago das Berlengas), Sintrano (serra
de Sintra e cabo da Roca) e Olissiponense (entre o Lizandro e o Tejo); no Ribatagano-
Sadense assinalam-se os Superdistritos Sadense (entre o Tejo e a Lagoa de Melides) e
Arrabidense (entre o Cabo Espichel e serra da Arrábida); no Algarviense encontram-se
os Superdistritos Costeiro Vicentino (entre a lagoa de Melides e a foz da ribeira da
Carrapateira, Promontório Vicentino (península de Sagres) e Algárvico (a leste desta
península).
É no litoral ocidental de Portugal que o atlântico e mediterrâneo se encontram,
como não existe uma fronteira com uma barreira física evidente é este o local onde as
plantas migram entre estes dois “mundos” (Izco, 1983, 1992, 1993).
Nos meios salgados podemos observar três formações distintas: mangais, sapais
e juncais. Os mangais ocorrem nas regiões em que o macroclima é tropical, e são
formados por mesofanerófitos (árvores). Os sapais assinalam-se em territórios onde o
macroclima é mediterrânico, e são dominados por nanofanerófitos e microfanerófitos
(arbustos) acompanhados de caméfitos (pequenos arbustos até 25 cm) e alguns
hemicriptófitos (plantas bienais ou vivazes de rosetas basais). Enquanto os juncais e
arrelvados halofíticos observam-se preferencialmente no litoral com macroclima
temperado, e na sua constituição dominam hemicriptófitos com alguns caméfitos como
acontece nas costas atlânticas. As salinas também são um meio salgado, em que nos
períodos que têm vegetação predominam os terófitos (plantas anuais).
Os halófitos são a designação das plantas que vivem em meios salgados. As
espécies do sapal, apesar de terem bastante água à sua disposição, esta é salgada e às
vezes, segundo Chapman (1960) chegam a suportar concentrações de sal, durante
períodos mais ou menos longos, superiores às águas do mar como pode acontecer com
Ruppia maritima e algas do género Chara. Para sobreviver em ambiente tão hostil as
plantas tiveram necessidade de adaptar o seu metabolismo, seguindo por isso várias
estratégias (Ranwell, 1972, Schrimer & Breckle, 1982, Keley et al., 1982, Lipschitz &
Weisel, 1982):
- Desenvolvimento da suculência resultante do aumento da diluição iónica
mediante o incremento da relação volume/superfície externa (folhas de Atriplex spp.,
Aster spp., Suaeda spp., folhas de Salicornia spp., Sarcocornia spp. Arthrocnemum
spp.);
- Absorção em alto grau de certos iões, como potássio, na presença de elevadas
concentrações de sódio no meio exterior – algas marinhas Halobacteria;
- Capacidade de acumulação, em certas partes da planta, de grandes quantidades
de sais provenientes do seu metabolismo que depois eliminam juntamente com os
orgãos que os armazenavam, como as folhas em algumas espécies do género Limonium
e as raízes do Elymus elongatus;
- Extrusão iónica mediante glândulas especiais de sais (em plantas de famílias
das Plumbagináceas, Tamaricáceas, Primuláceas e algumas espécies do género
Spartina), havendo em certos casos, existência de “bombas” que expulsam o sódio em
halófilos submersos;
- A tolerância de certas plantas do género Atriplex ao sal está relacionada com a
presença de pêlos glandulosos nas epidermes das páginas superior e inferior das folhas
onde a concentração do sal é muito mais elevada do que no interior da folha e no
exudado pelo xilema, e também com a fixação do carbono no ciclo de Calvin na
fotossíntese (plantas C4);
- A existência de glândulas de sal é responsável pelo conteúdo mineral de muitos
halófitos.
Topsa (1939) e Braun-Blanquet (1979) classificaram os halófitos em três grupos:
Halófitos obrigatórios os que necessitam de sais como diversas espécies dos
géneros Salicornia, Sarcocornia, Arthrocnemum, Limonium, Suaeda, Limoniastrum,
Atriplex, Frankenia, Spartina, Puccinellia, etc.;
Halófitos preferenciais os que preferem sais de que são exemplo Scirpus
maritimus var. compactus, Juncus maritimus, Salsola vermiculata, Hordeum marinum,
etc.;
Halófitos de substência os que toleram sais como Phragmites australis, Juncus
acutus, Cotula coronopifolia, Beta vulgare subsp. maritima entre outras.
As plantas no sapal, segundo Dawes (1981), estabelecem-se desde o nível médio
ao superior da zona entre-marés, em que a acção das correntes e das ondas não causam
erosão e onde as plantas não estão permanentemente submersas. A Cymodacea nodosa
que se assinala a sul do Sado e a Posidonia oceanica que ocorre no mar Mediterrâneo
fogem a esta regra porque se encontram sempre submersas por água salgada.
Os sapais apenas se formam onde o litoral esteja protegido da acção directa das
vagas e correntes marítimas e haja influência de água doce, deposição de sedimentos e
taludes suaves, por isso só ocorrem em estuários tranquilos e baías (Lousã, 1986). A
vegetação desempenha um papel fundamental no processo de sedimentação, pois não só
fornece abundantes detritos vegetais que as correntes das marés transportam, como
depois retêm esses detritos, que formam um denso enfeltrado capaz de retardar o
movimento de águas e reter os sedimentos em suspensão. Assim, o processo de
sedimentação acelera após o estabelecimento de um arrelvado de Spartina maritima,
que se comporta como pioneira e é capaz de se estabelecer em terrenos de cota bastante
baixa, aguentando, longos períodos de anaerobiose dificilmente suportáveis por outras
plantas. Quando o sapal atinge determinada cota, passam a ter também importância
Limonium vulgare, Sarcocornia perennis subsp. perennis, Puccinellia spp., Sarcocornia
fruticosa, Sarcocornia perennis subsp. alpini e Halimione portulacoides pela massa de
detritos que fornece.
A vegetação desempenha ainda um papel importante na maturação de
sedimentos e no desenvolvimento da complicada rede de pequenos canais que sulcam o
sapal. Estes foram cavados pelas águas da maré no aluvião, depois desta ter atingindo
determinada altura e adquirido uma cobertura vegetal bastante densa, a qual compeliu as
águas vazantes a tomar determinadas direcções, originando a formação de pequenas
ravinas que depois se foram alargando e juntando em canais de maiores dimensões.
No atlântico a submersão pelas águas da preia-mar tem importância na
distribuição das plantas dos salgados. Este factor está directamente relacionado com a
cota do local. No Algarve, na Ria Formosa, um dos factores que maior influência teve
na distribuição das espécies no no sapal foi a submersão bidiária (Costa ,1992 e Costa et
al., 1997). Segundo a tabela das marés da barra de Faro-Olhão, e tomando como
referência o zero hidrográfico (situado 2m abaixo do nível médio), as alturas médias das
marés máximas são as da preia-mar 1,65m. A altura máxima registada foi na preia-mar
3,58m e na baixa-mar 1,65m. Para a quase totalidade dos dias do ano a altura da preiamar
varia entre os 2,5 e os 3,5m e em apenas em cerca de 80 dias aquela altura
ultrapassa os 3,3m. Em relação às alturas na baixa-mar raramente são inferiores a 0,7m
e em cerca de metade dos dias do ano não descem abaixo de 1m.
Os terrenos de cota inferior a 2,5m ocupam área bastante extensa e são
diariamente submersos pela maré. Trata-se por vezes de baixios arenosos e outras vezes
lamas muito imaturas, sem vegetação ou com tufos mais extensos de Zostera noltii e de
Spartina maritima, é nesta zona que se desenvolve a actividade de mariscultura para a
produção de bivalves. Na áreas de cota compreendida entre os 2,5 os 3m existem em
regra densos arrelvados de Spartina maritima e Sarcocornia perennis subsp. perennis,
Puccinellia convoluta e Limonium vulgare. Nas clareiras podem aparecer as plantas
anuais Suaeda maritima e Salicornia fragilis. O chamado sapal baixo é aqui que se situa
e é dominado por hemicriptófitos e alguns caméfitos.
Nas manchas onde a cota é superior a 3m a vegetação é mais diversificada com
predominância de Sarcocornia perennis subsp. alpini, Sarcocornia fruticosa, Halimione
portulacoides, Puccinellia convoluta, Puccinellia foucaudi, Cistanche phelypaea,
Triglochin bulbosa subsp. barrelieri, Spergularia maritima. Nas clareiras ocorrem as
plantas anuais Salicornia patula e Suaeda maritima. Esta cota só é ultrapassada pelas
marés em pouco mais de 200 dias. A esta formação designa-se por sapal médio, que é
dominado por caméfitos acompanhados de hemicriptófitos e alguns nanofanerófitos.
Nos terrenos entre 3 e os 3,20m é onde domina o nanofanerófito Arthrocnemum
macrostachyum acompanhado, entre outras, de Halimione portulacoides, Inula
crithmoides, Limonium ferulaceum, Limonium diffusum+, Limonium algarvense+
ocorrendo também Salicornia patula e Suaeda maritima. Os sapais argilosos não
ultrapassam 3,40m sendo todos arenosos, passando aí a dominar o nanofanerófito
halonitrófilo Suaeda vera acompanhada de Cistanche phelypaea, Limonium algarvense,
Limonium diffusum, Halimione portulacoides, e por vezes Sporobolus pungens nos
sítios mais arenosos. É neste local que geralmente ficam depositados os detritos trazidos
pela preia-mar. Nos locais de cotas superiorers a 3,5m, que só são visitados nas marés
equinocionais ou nunca o são, assinala-se o micro-nanofanerófito Limoniastrum
monopetalum acompanhado de Polygonum equisetiforme, Elymus elongatus, Limonium
algarvense, Limonium ferulaceum. Esta formação dominada por nanofanerófitos e
microfanerófitos é chamada de sapal alto.
Nas cotas superiores a 3,75m, que já não são atingidas pelas águas das marés,
desenvolve-se a Salsola vermiculata acompanhada de Suaeda vera, Frankenia laevis,
Atriplex halimus, Elymus farctus subsp. boreali-atlanticus e outras plantas nitrófilas.
Esta comunidade halonitrófila, rica em actividade biológica visto que aí muitas aves
fazem os seus ninhos e ser habitada por diversos animais, não pertence ao sapal mas
encontra-se sempre a marginaliza-lo, fazendo a transição entre duna e o sapal ou
encontrando-se à beira dos caminhos.
Nos locais que sofrem inundações permanentes por água salobra podemos
observar comunidades dominadas por Scirpus maritimus var. compactus onde a
inundação é prolongada, ou por Juncus subulatus se essa inundação é menos prolongada
e a água mais salgada.
No mar Mediterrâneo as marés são muito pequenas por isso os fenómenos da
salinização são devido, em grande parte ao movimento de soluções salinas e à existência
de um lençol freático (Corre, 1976). Nos salgados da Camarga observou-se que no
Inverno o lençol freático se encontrava a pequena profundidade ou mesmo à superfície
do solo e a partir de Abril até Setembro ocorre a sua descida só subindo após a chegada
das chuvas outonais (Corre, 1979). A profundidade e a salinidade da toalha freática
tiveram uma elevada influência na distribuição das espécies no sapal da Ria Formosa
(Costa, 1992, Costa et al., 1997).
Em relação à profundidade do lençol freático constatou-se que:
- A altura do lençol sobe com a maré;
- No Inverno era superficial chegando estar mesmo à superfície do solo excepto
se for seco; na Primavera começava a descer até atingir a maior profundidade em
Agosto e Setembro começando a subir com a chegada das chuvas;
- Junto à ria encontrava-se à superfície junto da Spartina maritima, aumentando
a sua profundidade gradualmente, até atingir o máximo junto do Limoniatrum
monopetalum; a seguir a grandes precipitações pode acontecer o oposto, porque as
águas das chuvas se infiltram-se mais facilmente no sapal alto e lençol pode ficar à
superfície;
- As variações são bruscas especialmente a seguir a uma forte precipitação;
- As espécies das comunidades do sapal baixo (Spartinetum maritimae,
Sarcocornio perennis-Puccinellietum convolutae) não suportam variações bruscas de
profundidade, enquanto a do sapal alto (Inulo crithmoidis-Arthrocnemetum glauci,
Cistancho phelypaeae-Suadetum verae e Polygono equisetiformis-Limoniastretum
monopetali) o conseguem.
Em relação à salinidade e condutividade eléctrica do lençol freático observou-se
que:
- São menores no Inverno e vão aumentando até atingir o máximo nos meses de
Agosto e Setembro, começando a descer ao longo do Outono quando chegam as chuvas;
- Vão diminuindo do sapal alto para o baixo atingindo valores mais elevados
junto ao Polygono equsitiformis-Limoniastretum monopetalae, seguindo-se o Cistancho
phelypaeae-Suaedetum verae e os mais baixos junto ao Sarcocornio perennis-
Puccinallietum convolutae e Spartinetum maritimae;
- Junto ao Frankenio laevis-Salsoletum vermiculatae, onde deixa de haver sapal,
a salinidade é muito baixa, o sal das plantas desta comunidade que necessitam para
viverem chega através dos ventos marítimos;
- As comunidades do sapal baixo (Spartinetum maritimae, Sarcocornio
perennis-Puccinelietum convolutae) preferem uma salinidade e condutividade eléctrica
mais ou menos constantes ao longo do ano, as do sapal alto (Inulo crithmoidis-
Arthrocnemetum glauci, Cistancho phelypaeae-Suadetum verae e Polygono
equisetiformis-Limoniastretum monopetali) suportam fortes variações ao longo do ano,
as do sapal médio (Cistancho phelypaeae-Arthrocnemetum fruticosae e Halimiono
portulacoidis-Sarcocornietum alpini) têm um comportamento intermédio;
- Baixavam nos locais onde dominavam o Juncus maritimus e onde ocorriam
Juncus acutus, Spergularia salina, Frankenia boissieri, Sonchus maritimus, Aster
tripolium subsp. pannonicus, Oenanthe lachenalii, Lactuca salina, Carex extensa;
- Diminuem a seguir à queda de chuva;
- As suas variações são menos rápidas do que a profundidade, mas a seguir a
uma grande chuvada podem ser bruscas.
Este tipo de sapal mediterrânico onde se observa influência simultânea das
submersão das águas da maré, da salinidade, da profundidade do lençol freático e com
esta composição florística (com excepção do Limoniastrum monopetalum que não se
encontra fora do Algarve) ocorre desde o Tejo até Cádiz. Géhu & Rivas-Martínez
(1960) consideram estes sapais situados na sub-zona mediterrânica-atlântica devido à
ocorrência de Spartina maritima e Salicornia fragilis que já se encontram ausentes no
mar Mediterrâneo. No sapal alto do Tejo assinala-se Limonium daveaui* (Costa, 1999)
e nos do Sado, Mira e Carrapateira Limonium lanceolatum* (Lousã et al., 1999a), em
vez do Limonium algarvense.
Na Ria de Aveiro, e nos salgados dos rios Cávado, Lima e Minho já
predominam os juncais dominados por Juncus maritimus, arrelvados halofíticos
constituídos por Puccinellia maritima, Festuca rubra subsp. littoralis, Paspalum
vaginatum podendo encontrar alguma vegetação camefítica com Sarcocornia perennis,
Sarcocornia fruticosa e Puccinellia maritima, é típica dos salgados atlânticos (Pinto da
Silva & Teles, 1972, Rivas-Martínez et al., 1980, Barreto Caldas et al., 2000). Esta
vegetação é influenciada pela submersão bidiária das marés e ocorre em locais muito
menos salgados, visto que a quantidade de água doce que se encontra no lençol freático
é muito mais elevada no Verão do que nos territórios mediterrânicos. Espécies como o
Triglochin maritima, Puccinellia maritima, Elymus pycnanthus, Glaux maritima,
Salicornia ramosissimas, Plantago maritima, Armeria maritimas, Festuca rubra subsp.
litoralis são características dos salgados atlânticos. Verifica-se a ausência das espécies
mediterrânicas Arthrocnemum macrostachyum, Suaeda vera, Juncus subulatus,
Limonium ferulaceum, Elymus elongatus, Cistanche phelypaea, Puccinellia convoluta,
Puccinellia tenuifolia, Triglochin bulbosa subsp. barrelieri, Frankenia pulverulenta
entre outras.
O sapal do rio Mondego é interessante pois aqui encontram-se plantas
mediterrânicas como Arthrocnemum macrostachyum e Salicornia patula e atlânticas
como Puccinellia maritima e Elymus pycnanthus.
Apesar das diferenças acentuadas entre salgados e dunas existem três
características comuns: instabilidade, carência de nutrientes e falta de humidade do solo,
que são melhoradas com restos orgânicos trazidos pelas marés, depositados no cimo da
linha de inundação, sendo aqui o começo da formação da duna (Ranwell, 1972).
Segundo Costa (1992) para sobreviver em meio tão adverso as plantas das dunas
também sofreram modificações morfológicas, anatómicas e fisiológicas, assim:
- Para diminuir a transpiração possuem folhas de reduzidas dimensões
(Juniperus turbinata, Otanthus maritimus, Polygonum maritimum, Thymus carnosus+,
Linaria caesia subsp. decumbens+, Anagallis monelli var. microphylla+, Jasione
lusitanica*, Herniaria maritima*, Herniaria ciliolata subsp. robustas, Linaria
pedunculata+, Silene littorea, Polycarpon alsinifolium, Salsola kali etc.), muito
recortadas (Anthemis maritima, Artemisia crithmifolia+, Coyncia jonhstonii*, Seseli
tortuosum, Pseudorlaya pumila, Pseudorlaya minuscula+, etc.), cilíndricas ou revolutas
(Ammophila arenaria subsp. australis, Elymus farctus subsp. boreali-atlanticus,
Thymus carnosus+, Helichrysum picardi+, Armeria pungenss, Armeria welwitschii
subsp. welwitschii*, Iberis procumbens+, Corynephorus canescens var. maritimus,
Corema album+, etc.), com forte cutícula (Eryngium maritimum, Artemisia crithmifolia,
Calystegia soldanella, Corema album, Linaria lamarckii+, Lotus creticus, Euphorbia
paralias, Euphorbia peplis, Honkenya peploides, Pancratium maritimum, Cyperus
capitatus Carex arenarias, Cakile maritima, Juniperus turbinata, Anthirrinum majus
subsp. cirrhigerum, etc.) e indumento de pêlos compridos esbranquiçados para refletir a
luz ou pêlos glandulosos (Medicago marina, Otanthus maritimus, Malcolmia littorea,
Malcolmia ramosissima, Matthiola sinuata, Lotus creticus, Ononis natrix subsp.
ramosissima, Helichrysum picardi, Verbascum litigiosum*, Linaria ficalhoana*,
Herniaria algarvica*, Iberis procumbens, Ononis natrix subsp. ramosissima, etc.);
- Possuir uma forma prostrada (Euphorbia peplis, Calystegia soldanella,
Herniaria maritima, Herniaria ciliolata subsp. robusta, Linaria caesia subsp.
decumbens, etc.) ou pulviniforme, isto é em forma de bola, para resistir aos fortes
ventos (Ononis natrix subsp. ramosissima, Seseli tortuosum, Artemisia crithmifolia,
etc.);
- Raízes muito profundas para captar água em profundidade (Euphorbia
paralias, Ammophila arenaria subsp. australis, Linaria lamarckii, Artemisia
crithmifolia, Otanthus maritimus, Ononis natrix subsp. ramosissima, Calystegia
soldanella, etc.), ou com sistemas radiculares superficiais de forma a recolher de
imediato a água que chega ao solo e a condensação do vapor de água durante as épocas
de maior secura (Ononis variegata, Pseudorlaya minuscula, Linaria pedunculata,
Linaria algarvica, Linaria ficalhoana, Polycarpon alsinifolium, Silene littorea,
Medicago littoralis, etc.);
- Aptidão e capacidade para formar entre-nós ou rizomas horizontais e verticais
conforme as deposições sobre a planta e da mobilidade da areia (Ammophila arenaria
subsp. australis, Elymus farctus subsp. boreali-atlanticus, Artemisia crithmifolia,
Honkenya peploides, Calystegia soldanella, Aetheoriza bulbosa, etc.);
- Caules e folhas suculentas com reservas de água (Sedum sediforme, Herniaria
maritima, Otanthus maritimus, Artemisia crithmifolia, Honkenya peploides,
Carpobrotus edulis, Plantago macrorhiza, etc.);
- Plantas CAM, isto é que só abrem os estomas à noite (Sedum sediforme,
Carpobrotus edulis, etc.);
- Presença de micorrizas nas raízes que ajudam a sobreviver as plântulas e
posteriormente colonizar as dunas.
A vegetação tem papel importante na formação das dunas e na fixação das
areias. Uma duna começa a formar-se sempre por detrás de uma planta geralmente o
Elymus farctus, e a fixação das areias só começa a ocorrer onde se encontra instalada a
Ammophila arenaria.
Segundo Costa (1992), na Ria Formosa, os factores que mais influenciaram a
distribuição de plantas nas dunas foram a mobilidade da areia e a o vento dominante.
Em relação a este último factor Armeria pungens, Calystegia soldanella, Sedum
sediforme, Linaria munbyana var. pygmaea, Thymus carnosus; Polygonum maritimum,
Euphorbia paralias tiveram uma forte tendência para ocorrem nos locais onde
dominavam os ventos de barlavento enquanto Retama monosperma, Pycnocomon
rutifolium, Ononis variegata, Pseudorlaya pumila tinham preferência por locais onde o
vento dominante era de sotavento.
Na praia onde as águas da preia-mar depositam os detritos orgânicos
desenvolve-se uma vegetação terofítica e migratória onde ocorrem Euphorbia peplis,
Salsola kali, Cakile maritima subsp. maritima (esta última só a sul do Cabo Carvoeiro),
Cakile maritima subsp. integrifolia e Honkenia peploides (estas duas a norte deste cabo)
(Costa et al., 2001).
Em Portugal continental, na praia alta, onde a areia é muito móvel, encontra
instalada uma comunidade dominada pelo pequeno hemicriptófito Elymus farctus
subsp. boreali-atlanticus, acompanhado frequentemente de Eryngium maritimum,
Otanthus maritimus, Polygonum maritimum, Euphorbia paralias (Costa et al., 1994,
1997, 2001, Lousã et al., 1999, Lousã et al., 1999a).
Nas cristas das dunas, onde a areia ainda possui uma mobilidade elevada,
domina o hemicriptófito Ammophila arenaria subsp. australis (estorno) acompanhado
de Calystegia soldanella, Euphorbia paralias, Otanthus maritimus, Medicago marina,
Erygium maritimum, Pancratium maritimum entre outras. Só a sul do Cabo Carvoeiro o
Lotus creticus se encontra instalado nestas cristas (Costa et al., 1994, 1997, 2001).
Quando começa a haver alguma fixação da areia por acção do estorno verfica-se que
alguns caméfitos como Armeria spp., Artemisia crithmifolia, Crucianella maritima, etc.
iniciam a sua instalação (Costa et al., 1994, 1997, 2001, Barreto Caldas et al., 2000).
Em toda a costa ocidental portuguesa são frequentes os temporais, especialmente
no Inverno, que podem destruir as cristas dunares. A Ammophila arenaria subsp.
australis não suporta inundações e por isso morre e no seu lugar desenvolve-se uma
comunidade dominada por Elymus farctus subsp. boreali-atlanticus com Otanthus
maritimus (Rivas-Martínez et. al., 1990, Costa et al., 1994 e 2001).
Por detrás das cristas dunares a areia encontra-se fixada por caméfitos, esta
formação é chamada de duna cinzenta. É na costa de Portugal continental onde se
encontram as mais belas dunas cinzentas da Europa e com maior diversidade de
espécies (Rivas-Martínez et al., 1980). Crucianella maritima, Artemisia crithmifolia,
Helichrysum picardi, Ononis natrix subsp. ramosissima, Malcolmia littorea, Anagallis
monelli var. microphylla, Scrophularia frutescens, Silene nicaensis, Cyperus capitatus,
Aetheoriza bulbosa, Pancratium maritimum, Euphorbia portlantica, Medicago marina,
Corynephorus canrescens var. maritimus, Iberis procumbens podem aparecer em quase
todas as dunas portuguesas. A sul do Tejo e Sado ocorrem Armeria pungens, Thymus
carnosus, Linaria lamarckii, Herniaria maritima, Anthemis maritima, Lotus creticus
(Costa et al., 1994, 1997). Entre Cascais e a Praia da Murtinheira vivem os endemismos
lusitanos Armeria welwitschii subsp. welwitschii e Herniaria maritima (Braun-Blanquet
et al., 1972, Neto, 1993, Costa et al., 2001). Linaria caesia subsp. decumbens, Carex
arenaria e Matthiola sinuata distribuem-se a norte do Cabo da Roca. A partir da
Murtinheira para norte começa-se a observar Leontodon taraxacoides subsp. arenarius,
Herniaria maritima subsp. robusta. A sul da Praia de Mira até ao Cabo de S. Vicente se
encontra assinalado Verbascum litigiosum. Só a norte das dunas de S. Jacinto crescem
os endemismos lusos Jasione montana e Coyncia jonhnstonii acompanhados de Festuca
rubra subsp. rubra (Braun-Blanquet et al., 1972, Costa et al., 2001).
Nas clareiras dos caméfitos, na Primavera, é comum observar comunidades de
plantas anuais em que Medicago littoralis, Polycarpon alsinifolium, Cutandia maritima,
Pseudorlaya minuscula, Erodium aethiopicum subsp. pilosum, Coronilla repanda,
Anthyllis hamosa, Malcolmia ramosissima, Rumex bucephalophorus subsp. gallicus,
Senecio gallicus podem ocorrer em todo o litoral português. Por outro lado Linaria
pedunculata, Linaria munbyana, Ononis variegata+ distribuem-se no Superdistrito
Algárvico, Pseudorlaya pumila e Hedypnois arenaria+ crescem a sul de Tróia,
Herniaria algarvica e Linaria ficalhona podem desenvolver-se entre Tróia e o Cabo de
S. Vicente, Silene littorea assinala-se em toda a costa atlântica e Malcolmia
ramosissima a norte do cabo Carvoeiro.
A etapa madura das dunas fixas mediterrânicas, no nosso país, é a das sabinasdas-
praias (Juniperus turbinata), que pode ser observada nas dunas fixas a sul do rio
Mondego. As camarinhas (Corema album) também fazem parte desta etapa e ocorrem a
sul do Douro, sendo raras nas areias litorais a norte deste rio. Nestas comunidades
nanofanerofíticas são comuns Rubia peregrina, Antirrhinum cirrhingerum, Asparagus
aphyllus, Rhamnus alaternus, Pistacia lentiscus, Smilax aspera, Daphne gnidum,
Phillyrea angustifolia, Cistus salvifolius, etc., a sul de Tróia pode ocorrer Osyris
quadripartita (Costa et al., 1994, Lousã et al., 1999a). Nas paleodunas sadenses
desenvolve-se um arbusto endémico deste território Juniperus navicularis* que,
frequentemente, é acompanhado de Daphne gnidium, Phillyrea angustifolia, Asparagus
aphyllus entre outras (Costa et al., 1994, Neto e Capelo, 1999, Lousã et al., 1999).
Neste território em areias nitrofilizadas ou à beira de caminhos cresce o endemismo
Santolina impressa* (Neto e Capelo, 1999, Costa et al., 2000).
Por detrás das dunas são frequentes comunidades arenícolas e nanofanerofíticas
em que quase sempre estão presentes Halimium halimifolium, Halimium calycinum,
Lavandula pedunculata subsp. lusitanica+, Helichrysum italicum var. virescens+, Cistus
salvifolius, Corema album, Iberis linifolia subsp. welwitschii, Lavandula luisieri+,
Lithodora prostrata subsp. lusitanica, Euphorbia baetica+, que, no Costeiro Português
são acompanhadas de Stauracanthus genistoides+, Ulex europaeus subsp.
latebracteatus+, Genista triacanthos, Calluna vulgaris, nas areias sadenses de Thymus
capitellatus*, Stauracanthus genistoides, Armeria rouyana*, Armeria pinifolia*, Ulex
australis subsp. welwitschianus*, no Costeiro Vicentino e Promontório Vicentino de
Thymus camphoratus*, Stauracanthus spectabilis*, Armeria pinifolia e no Superdistrito
Algárvico de Ulex argenteus subsp. subsericeus+, Cistus libanotis, Armeria
macrophylla+, Thymus albicans+, e muito finicola e raramente a leste do Aeroporto de
Faro de Ulex australis subsp. australis+, Thymus albicans subsp. donyanae+, Armeria
velutina+. Em areias mais erosionadas com má drenagem no Superdistrito Algárvico
ocorrem ainda Stauracanthus boivinii, Tuberaria major*, Thymus lotocephalus*, Erica
umbellata var. major, Genista triacanthos, etc.
Em toda a costa arenosa portuguesa a sul de Aveiro, em locais nitrofilizados, é
frequente ver uma comunidade de plantas anuais formada por Vulpia alopecurus,
Reichardia gaditana, Chamaemelum mixtum, Artotheca calendula, Bromus rigidus,
Bromus diandrus, Brassica barrelieri subsp. oxyrrhina, Sonchus tenerrimus,
Centranthus calcitrapa, Paronychia argentea, Plantago coronopus, etc. (Costa et al.,
2001).
Um grave problema das dunas em Portugal é o chorão, Carpobrotus edulis,
planta exótica de origem sul africana que em muitos locais tem elevados recobrimentos
e impede o desenvolvimento correcto da flora e vegetação natural.
A norte do pinhal de Leiria, por detrás destas comunidades especialmente sobre
coberto de pinheiros-bravos a vegetação climácica das dunas são medronhais com
samouco. Além do medronheiro (Arbutus unedo) e do samouco (Myrica faya) também
entram na sua composição florística Viburnum tinus, Erica arborea, Phillyrea
angustifolia, Cytisus grandiflorus+, Rubia longifolia, Smilax aspera, Rhamnus
alaternus, Ruscus aculeatus, Corema album, etc. (Capelo & Mesquita, 1999). A
destruição destes medronhais resulta geralmente num giestal de que fazem parte Cytisus
grandiflorus, Cytisus striatus e Ulex europaeus subsp. latebracteatus entre outras. Entre
Vila Real de Santo António e a Ilha de Tavira, na Ria de Alvor e na península de Tróia
pode-se observar uma comunidade dominada por Retama monosperma acompanhada de
Pycnocomon rutifolium, Cytisus grandiflorus subsp. cabezudoi, entre outras.
As plantas das arribas além de estarem sujeitas aos fortes ventos marítimos
carregados de sal encontram-se numa situação muito difícil pois são rupícolas, isto é
vivem sobre rochas. As suas principais modificações morfológicas e fisiológicas são
semelhante às das dunas especialmente a forma pulviniforme (Ulex jussiaei subsp.
congestus*, Ulex europaeus subsp. latebracteatus f. humilis, etc.) ou prostrada rente ao
solo (Juniperus turbinata, Frankenia laevis, Cistus palhinae*, Silene uniflora, etc.),
folhas pequenas (Herniaria berlengiana*, Calendula suffruticosa subsp. algarbienses,
Spergularia rupicula, Frankenia laevis, etc.), frequentemente cilíndricas ou revolutas
(Frankenia laevis, Spergularia rupicola, Spergularia australis, Limonium ferulaceum,
Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis, etc.), muito recortadas (Angelica
pachycarpa+, Crithmum maritimum), suculentas (Crithmum maritimum, Plantago
coronopus subsp. occidentalis, Spergularia rupicola, Spergularia australis, Leontodon
taraxacoides, Inula crithmoides, Atriplex prostrata, etc.), fortemente cutinizada
(Crithmum maritimum, Plantago coronopus subsp. occidentalis, Daphne gnidium var.
maritima, etc.) e com pêlos brancos ou glandulosos (Daucus halophilus+, Helichrysum
decumbens+, Dactylis marina+, Helianthemum apeninum, etc.). Outra adaptação
frequente é terem a maior parte do ano as folhas reduzidas a uma roseta basilar, só
emitindo um escapo florífero num pequeno período do ano (Limonim ovalifolium,
Limonium virgatum, Limonium multiflorum*, Limonium plurisquamatum*, Limonium
laxiusculum*, Armeria pubigera+, Armeria welwitschii subsp. cinerea*, Armeria
berlengensis*, Armeria pseudarmeria*, Daucus halophilus, Plantago coronopus subsp.
occidentalis, etc.).
A vegetação halocasmofítica que constituída maioritariamente por
hemicriptófitos, vive sobre as rochas mais expostas aos fortes ventos carregados de sal,
é muito variada e rica em endemismos lusitanos (Costa et al. 1998). Nas arribas
graníticas minienses observa-se uma comunidade constituída por Armeria pubigera,
Festuca rubra subsp. pruinosa, Crithmum maritimum, Plantago coronopus subsp.
occidentalis, Spergularia rupicola, Silene uniflora, Asplenium marinum, etc. Nos
granitos berlenguenses ocorrem Armeria berlengensis, Crithmum maritimum, Plantago
coronopus subsp. occidentalis, Dactylis marina, Angelica pachycarpa, Spergularia
rupicola, Silene uniflora, Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis, Asplenium
marinum, entre outras. Entre os cabos Mondego e Carvoeiro inclusive, nas falésias
calcárias desenvolvem-se Limonium plurisquamatum, Crithmum maritimum, Plantago
coronopus subsp. occidentalis, Dactylis marina, Limonium ovalifolium, Crithmum
maritimum, Spergularia australis, Armeria welwitschii subsp. cinerea, Daucus
halophilus, entre outras. No Superdistrito Sintrano, nos alcantilados graníticas
observam-se Daucus halophilus, Dianthus cintranus subsp. cintranus*, Armeria
pseudarmeria, Limonium virgatum, Crithmum maritimum, Plantago coronopus subsp.
occidentalis, Dactylis marina, Spergularia australis, Helichrysum decumbens,
Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis, etc. As rochas calcárias entre Cabo
Carvoeiro (inclusive) e Lisboa encontram-se povoadas por Limonim multiflorum,
Limonium virgatum, Crithmum maritimum, Plantago coronopus subsp. occidentalis,
Dactylis marina, Daucus halophilus, Armeria welwistchii subsp. cinerea, Helichrysum
decumbens, Spergularia australis, Calendula suffruticosa subsp. algarbiensis,
Limonium ferulaceum, etc. Nas arribas calcárias arrabidenses crescem Helianthemum
apenninum, Limonium virgatum, Crithmum maritimum, Plantago coronopus subsp.
occidentalis, Dactylis marina, Daucus halophilus, Helichrysum decumbens, Calendula
suffruticosa subsp. algarbiensis, Helianthemum marifolium, Spergularia australis, entre
outras. Astragalus tragacantha subsp. vicentinus+, Helichrysum decumbens, Thymus
camphoratus, Silene rothmaleri*, Calendula incana, Cistus palhinae, etc. povoam as
falésias mais elevadas do Promontório Vicentino. Nas rochas calcárias marítimas mais
expostas aos ventos marítimos do Superdistritos Algárvicos e Promontório Vicentino
vivem Limonium ovalifolium, Crithmum maritimum, Plantago coronopus subsp.
occidentalis, Dactylis marina, Daucus halophilus, Helichrysum decumbens, Calendula
suffruticosa subsp. algarbiensis, Limonium ferulaceum, Spergularia australis, etc.
A etapa madura das falésias mediterrânicas portuguesas é uma comunidade
endémica de Portugal dominada por Juniperus turbinata acompanhada de Quercus
coccifera, Smilax aspera, Asparagus aphyllus, Phillyrea angustifolia, Pistacia lentiscus,
Rubia peregrina, Rhamnus alaternus, etc. que pode ser vista desde Cabo Mondego até
ao Algarve (Rivas-Martínez et al., 1990, Costa et al, 2001). No território eurossiberiano
estas comunidades são substituídas por tojais aero-halinos. No Superdistrito Miniense
pode ser visto um deste tojal que é constituídos por Ulex europaeus subsp.
latebracteatus f. humilis, Cistus salvifolius, Daphne gnidium var. maritima, Genista
triacanthos, Dactylis marina, Erica ciliaris, Cirsium filipendulum+, etc. (Honrado et al.,
2000). No cabos da Roca e Mondego também ocorre um tojal deste tipo formado por
Ulex jussiaei subsp. congestus, Daphne gnidium var. maritima, Calluna vulgaris,
Armeria pseudarmeria, Cistus salvifolius, Dactylis marina, Daucus halophilus, etc.
(Costa et al., 2001). Nos alcantilados calcários do Divisório Português junto à Ericeira e
entre Foz do Arelho e a a Serra da Pescaria (Nazaré) observa-se um tojal em que
domina o endemismo Ulex densus. Estes dois últimos tojais resultam da degradação dos
sabinais. Outra etapa regressiva do Juniperus turbinata são os matos de Cistus palhinae,
que nas arribas xistosas do Costeiro Vicentino é acompanhado de Genista triacanthos,
Calluna vulgaris, Erica umbellata var. major, Lithodora lusitanica, Erigium dilatatum,
Rosmarinus officinalis, Ditrichia viscosa subsp. revoluta*, Cynara algarbiensis*, etc., e
nos alcantilados calcícolas do Promontório Vicentino de Ulex erinaceus*, Genista
hirsuta subsp. algarbiense*, Teucrium vicentinum*, Erygium dilatatum, Rosmarinus
officinalis, Viola arborescens, Phagnalum rupestre, Sidiritis arborescens subsp.
lusitanica*, Thymus camphoratus, Ditrichia viscosa subsp. revoluta, Hyacintoides
vicentinus subsp. vicentinus*, etc. (Rivas-Martínez et al., 1990, Costa et al., 1994).
Nas arribas portuguesas encontram-se assinaladas comunidades de pequenos
arbustos halonitrófilos que necessitam dos dejectos das aves marinhas ricos em azoto
para se desenvolverem (Costa et al., 2000). Suaeda vera, Frankenia laevis e Atriplex
halimus, Beta vulgaris subsp. maritima encontram-se na quase totalidade das falésias
portuguesas. Nos lugares mais xéricos da costa algarvia são acompanhadas de Salsola
vermiculata, Lycium intricatum, Lycium barbarum e Cynomorium coccinum, enquanto
nos Superdistritos Berlengense e Costeiro Português são acompanhadas por
Scrophularia sublyrata* e Lavatera olbia.
As espécies neste trabalho assinaladas com * são endémicas de Portugal, com +
da Península Ibérica e com s da Europa.
Todas estas comunidades aqui descritas fazem parte da listagem de “habitats”
incluídas na rede Natura 2000, sendo algumas “habitats” prioritários como as
comunidades camefíticas e anuais das dunas e as associações da sabina-da-praia quer
das dunas quer das arribas. Também algumas das espécies fazem parte da Convenção de
Berna (Ionopsidium acaule) ou do Anexo II (Limonium multiflorum, Limonium dodarti
subsp. lusitanicum*, Limonium lanceolatum*, Armeria rouyana, Omphalodes
kuzunskyanae*, Linaria ficalhoana, Linaria algarvica*, etc.).
Como se pode concluir, deste pequeno trabalho, a flora e vegetação do litoral
Português é muito rica em endemismos. Hoje em dia, este Património natural, apesar de
alguma parte dele estar incluído em Sítios da Rede Natura 2000, está ameaçado
fortemente pela actividade humana através de construções de empreendimentos
turísticos, campos de golfe, marinas, quer mesmo por plantações de plantas exóticas,
etc. Há que lutar pela sua preservação evitando a sua destruição e deixarmos de herança
para gerações futuras.
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